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Correio da Educação

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Quando o “muro” foi construído, a Alemanha era uma nação dividida há já 16 anos uma nação dividida. Após a capitulação, em Maio de 1945, o país foi dividido em quatro zonas de ocupação. Em 1949, as zonas francesa, inglesa e norte americana estiveram na origem da República Federal Alemã (RFA) e a soviética deu origem à República Democrática Alemã (RDA), que escolheu Berlim Leste como capital. Com a constituição das duas Alemanhas, a cidade de Berlim, tornou-se uma ilha no interior da RDA. A metade ocidental de Berlim passou a ser, incómoda, montra de prosperidade para o Bloco de Leste, ou melhor, para a União Soviética. 


A 10 de Novembro de 1958, o líder comunista Nikita Kruchtchev exigiu o fim do estatuto das quatro potências em Berlim, insistindo que Berlim Ocidental fosse transformada numa “cidade livre”, desmilitarizada e que o controlo das vias de acesso a Berlim passasse a ser feito pela República Democrática Alemã. Seria o primeiro ultimato.

O desafio de Kruchtchev era hábil: os Aliados seriam confrontados com a escolha de reconhecerem a RDA ou iniciarem uma guerra, com o pretexto burocrático de saber quem devia carimbar os documentos de trânsito. A posição de Moscovo não dissimulava, no entanto, uma debilidade soviética. Berlim estava a revelar-se um gigantesco rombo na “Cortina de Ferro”: 2,68 milhões de pessoas fugiram da RDA para o Ocidente, entre 1949 e 1961. Se a tendência se mantivesse, o auto-intitulado “paraíso dos operários” deixaria de ter trabalhadores.

A situação económica da RDA agudizou-se na Primavera de 1961 e, de imediato, o número de refugiados cresce diariamente. No ar pairava o sentimento de que “qualquer coisa” estava prestes a acontecer: Walter Ulbricht exige medidas determinadas a Moscovo para estancar o êxodo, mas Kruchtchev decidiu esperar pelo seu encontro com o presidente americano John F.Kennedy, em Viena.

Quando Kennedy assumiu funções tinham já decorrido três anos sobre o primeiro ultimato de Kruchtchev. A passagem do tempo tinha reduzido a credibilidade da ameaça e afastado o sentimento generalizado de perigo. Porém, precisamente no momento em que a crise de Berlim se parecia desanuviar, a tentativa falhada da administração Kennedy para derrubar Fidel Castro, na Baía dos Porcos, e a indecisão presidencial em relação ao Laos teriam convencido o líder comunista que Kennedy era vulnerável. Na cimeira de Viena, o senhor do Kremlin validou o ultimato, exigindo a retirada das tropas aliadas de Berlim ocidental até ao final do ano. O Presidente norte-americano recusou, abrindo-se assim um dos períodos de confrontação mais intensos de toda a Guerra Fria.

“Ninguém tem intenção de erguer um Muro”, afirmou Walter Ulbricht, a 15 de Junho de 1961, numa conferência de imprensa internacional na “Haus der Ministerien”. Menos de dois meses depois, a mentira de Ulbricht seria desmascarada. O chefe de Estado da RDA, corroborado pelo seu chefe de segurança, Erich Honecker, deu a ordem para, nas primeiras horas de 13 de Agosto, cercar Berlim, erguer barricadas de arame farpado entre o sector soviético e os restantes sectores. Viveram-se momentos dramáticos: fugas desesperadas no último minuto, famílias artificialmente separadas, vias de comunicação interrompidas, e casas expropriadas. Tudo isto perante o olhar horrorizado e os protestos de berlinenses ocidentais.

O diário “Bild” titulava, a 16 de Agosto de 1961, “ O Ocidente não faz NADA. O

Presidente Kennedy cala... Macmillan [primeiro ministro britânico] vai à caça e Adenauer... disparata com Brandt”.

Americanos e britânicos mostravam-se relutantes em arriscar uma guerra por causa da capital de um inimigo derrotado. Contrariamente à França, a Grã-Bretanha não identificava a sua segurança a longo prazo com o futuro da Alemanha e a construção do Muro não se enquadrava na definição americana de agressão, pelo que a Casa Branca decidiu não a desafiar militarmente, fazendo uma “cedência menor” ao Kremlin (a manutenção dos “three essentials”, garantida a partir de 1963, reforçou esta política).

A 24 de Agosto de 1961, o Muro cobrou a sua primeira vítima: Günter Litfin, um alfaiate de 24 anos. Até à revolução pacífica de 1989, que culminou com a queda do “Muro da

Vergonha”, centenas de alemães perderam a vida na tentativa de o atravessar.

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