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Correio da Educação

Correio da Educação

 

Já está disponível a última edição da Gazeta de Matemática, a publicação de divulgação da matemática. Este número dá a conhecer os contributos desta ciência para o funcionamento do sistema eleitoral americano e o artigo "Uma mente não menos brilhante" reaviva a história de Piet Hein e do seu jogo Con-tac-tix, reinventado mais tarde pelo famoso John Nash. Noutra secção, os prismas hexagonais, dodecagonais e os cilindros ajudarão a resolver o "Problema da formiga". A revista divulga ainda uma entrevista com Carlos Grosso, o responsável pela avaliação e certificação dos manuais escolares da disciplina de Matemática. A Gazeta de Matemática reúne artigos originais de natureza científica e pedagógica, notícias do que acontece no mundo da matemática, entrevistas, etc. Desde a sua fundação, em 1939, tem sido o principal elo de ligação da Sociedade Portuguesa de Matemática e da comunidade matemática com os professores e estudantes do ensino secundário e superior interessados nesta área. (SPM)

Luciana Pereira*

 

Com a criação de um dia mundialmente comemorativo da poesia, faz, afinal, todo o sentido reflectir acerca da atractividade do texto poético no âmbito da sociedade ocidental contemporânea, justificando, entre outros aspectos, tamanha visibilidade. Não é intenção deste artigo debruçar-se sobre uma análise académica dos virtuosismos distintivos do texto poético ou da sua caracterização genológica adentro da sua evolução diacrónica. Desta vez, interessa perceber os motivos concretos que explicam a sua resiliência em contextos culturalmente dominados pelas inovadoras formas de comunicação e interactividade multimédia criativas.

*Luciana Cabral Pereira – Doutoranda na área da Didáctica da Literatura pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e Investigadora do CITCEM, FLUP.

02 Jun, 2010

Brincamos a quê?

Carla Marques*

 

A sociedade moderna é um monstro voraz capaz de roubar ao ser humano aquilo que é conhecido como “tempo”. A desenfreada corrida do quotidiano deixa cada vez menos tempo para aquilo que se designa por “tempo livre”. Este conceito, cada vez mais estranho e desprezível aos olhos da moderna máquina social, vai caindo em desuso e leva consigo idosos, adultos e também crianças. A sociedade exige adultos com uma capacidade de produção cada vez maior, nega aos mais idosos a saída atempada da “vida activa” e rouba às crianças o tempo para brincar.

*Carla Marques - Mestre em Linguística e doutoranda na mesma área; autora de várias publicações de carácter didáctico e de carácter linguístico: docente na Escola Secundária/3 de Carregal do Sal.

Ética no ensino e na aprendizagem

 

1. Na imprensa nacional tem-se feito eco de uma tese de doutoramento, apresentada por um docente de uma instituição de ensino superior a uma Universidade, a qual seria cópia de uma outra, feita noutro país, por outro universitário. Nem as modernas tecnologias teriam identificado o caso, denunciado anonimamente. Situações destas aconteceriam com alguma frequência.

O campo do ensino não seria o único a conhecer este género de “roubo” a que legalmente se atribui o termo plágio. Com efeito, a Revista Única de 8 de Maio (2010: 56-60), sob o título, “Roubo, mentira e escândalo na história da Times New Roman”, refere, a problemática autoria desse tipo de letra, sublinhando, em subtítulo, “No meio tipográfico não existe maior insulto do que a acusação de plágio”.

Tem havido mesmo casos em que o candidato, envolvido num exame ou prova, se vê eliminado por o júri descobrir a trapaça, a que recorreu, tentando enganá-lo, recorrendo a apoios que os outros candidatos não possuem e apropriando-se, indevidamente, de dados dos quais não é autor. Quando a acção passa despercebida, tudo fica entre ele e a sua consciência ou a ausência dela.

J. Esteves Rei - Professor Catedrático de Didáctica das Línguas e de Comunicação, na UTAD, Vila Real


Cármen Lima, da Quercus, reconhece que a primeira semana pode ser “confusa”. Mas usar fraldas reutilizáveis em vez das descartáveis depressa se torna um hábito. Uma experiência realizada pela associação ambientalista concluiu que as “eco-fraldas” permitem reduzir uma tonelada de resíduos por bebé. (Público)

 

 

"E foi então que apareceu a raposa:

- Boa dia, disse a raposa.

- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.

- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...

- Quem és tu? Perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...

- Sou uma raposa, disse a raposa.

- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...

- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa, não me cativaram ainda.

- Ah! Desculpa, disse o principezinho.

 

Após uma reflexão, acrescentou:

- Que quer dizer "cativar"?

- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?

- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer "cativar"?

- Os homens, disse a raposa, tem fuzis e caçam. E bem incomodo! Criam galinhas também. E a única coisa interessante que fazem. Tu procuras galinhas?

- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?

- E uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."

- Criar laços?

- Exactamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nos teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...

- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...

- E possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra...

- Oh! Não foi na Terra, disse o principezinho.

 

A raposa pareceu intrigada:

- Num outro planeta?

- Sim.

- Há caçadores nesse planeta?

- Não.

- Que bom! E galinhas?

- Também não.

- Nada e perfeito, suspirou a raposa.

 

Mas a raposa voltou a sua ideia.

- Minha vida e monótona. Eu caço as galinhas e os homens caçam-me. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.

Os teus me chamarão para fora da toca, como se fossem musica. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim e inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso e triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que e dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...

 

A raposa calou-se e considerou por muito tempo o principe:

- Por favor... Cativa-me! Disse ela.

- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.

- Nos só conhecemos bem as coisas que cativamos, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não tem amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!

- Que e preciso fazer? Perguntou o principezinho.

- E preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem e uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia te sentarás mais perto...

 

No dia seguinte o principezinho voltou.

- Teria sido melhor voltares a mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, as quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. As quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso rituais.

- Que e um ritual? Perguntou o principezinho.

- E uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. E o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas.

 

Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:

- Ah! Eu vou chorar.

- A culpa e tua, disse o principezinho, eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...

- Quis, disse a raposa.

- Mas tu vais chorar! Disse o principezinho.

- Vou, disse a raposa.

- Então, não ganhaste nada!

- Eu ganho, disse a raposa, por causa da cor do trigo.

 

(...)

- Adeus, disse ele...

- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. E muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.

- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.

- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu tornas-te eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...

- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar."


in "O Principezinho" Antoine de Saint-Exupéry

 

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