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Correio da Educação

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* José Matias Alves

É recorrente a ideia que emerge da investigação: as escolas têm uma identidade, um ethos que
envolve e alimenta a ação de generalidade das pessoas. A identidade é uma marca cultural
poderosa que regula de modo invisível a ação das pessoas que trabalham na escola. E é ainda
um poderoso fator de valorização, credibilidade e procura social.

A identidade de uma escola decorre de muitos detalhes: tem a ver com a forma como organiza
os espaços, com a forma como os utiliza e dinamiza; com os suportes e os conteúdos de
comunicação; com os valores que regulam o pulsar da organização e que se veem de muitos
modos; com os modos de organizar a relação entre alunos, entre professores e alunos, entre
funcionários e alunos; entre professores e encarregados de educação; com a forma de lidar
com os problemas e os erros; com a forma de olhar, analisar e trabalhar os resultados da ação
educativa; com os modos de responsabilidade que se adotam. E com os ideais e os sonhos que
são permitidos, sugeridos e acalentados.

 

Mas face às políticas técnico-racionais de agregação forçada ou induzida que vão destruir as
identidades que demoraram muitos anos a construir, pode perguntar-se: mas as identidades
existem mesmo e têm esse poder regenerador? E se têm, porque não são consideradas?
Porque são esquecidas ou mesmo rasuradas?

Avanço com três hipóteses: porque é uma variável subjetiva que não se deixa aprisionar
pela razão objetiva que a decisão política sempre quer aparentar; porque há outras retóricas
(económicas, de macrorregulação territorial…) que têm uma ascendência maior; e porque, em
última instância isto acaba por não interessar, é algo que pertence à invenção dos teóricos

Sustento, no entanto, que este esquecimento nos vai sair muito caro nos casos em que as
identidades existentes eram promotoras de mais sucesso (o que quer dizer mais equidade,
justiça e realização pessoal e social). E nos casos em que identidades poderiam ser tóxicas
teria de haver outras medidas que estivessem à altura desse problema. Assim não vamos lá.

Assim não!

 

* José Matias Alves é investigador, doutor em Educação e professor convidado da Universidade Católica Portuguesa.

 

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