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Correio da Educação

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“Não há uma espécie de oferta de brindes para as pessoas virem para as Novas Oportunidades”


Público, online, 23.10.2010 - 08:50 Por Bárbara Wong

 

Foi a Agência Nacional para a Qualificação que denunciou o caso das vendas de trabalhos para os alunos das Novas Oportunidades na Internet. O seu diretor quer que os adultos saiam com as competências todas.

 

Luis Capucha foi operário, trabalhador-estudante e é hoje professor universitário (Carlos Lopes (arquivo))

 

 

A ex-ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues foi buscar Luís Capucha à escola de ambos, o Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), em Lisboa, para o colocar numa das direcções-gerais do ministério. Quando a Agência Nacional para a Qualificação (ANQ) foi criada para acolher a Iniciativa Novas Oportunidades (INO) e o ensino profissional e artístico especializado, Capucha abraçou o projeco e defende-o com unhas e dentes. O ensino e formação dos jovens e dos adultos é essencial para o país. Graças a ele o panorama escolar já está a mudar, não só para os que participam, como para as próprias famílias. Há mais gente a valorizar a escola, acredita. Por isso, a INO merece o reconhecimento de todos, diz quem, em tempos, foi operário, trabalhador-estudante e é hoje professor universitário.

A opinião publicada tem colocado reservas à INO. Muitos dizem que esta só serve para dar diplomas. É assim?

Surgem críticas, mentiras e afirmações de quem não quer mentir mas fala do que não sabe. A INO tem uma grande diversidade de ofertas. Na via dos adultos há Cursos de Educação e Formação, há formações por módulos e o processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC), que podem variar de alguns meses até alguns anos. A média é de dez a 12 meses.

Esse é um dos pontos polémicos. Por exemplo, no processo de RVCC, as pessoas são avaliadas pelo que sabem e não pelo que aprenderam. Concorda?

O acesso à certificação obedece à avaliação daquilo que é o resultado das aprendizagens. Todas as vias oferecidas têm os seus métodos, as suas regras de avaliação que avaliam as competências das pessoas, de caráter mais cognitivo, quer mais operacional, do saber fazer e do saber aprender.

Como?

Os alunos quando obtêm um diploma, esse corresponde às competências que têm. Existem referenciais que estabelecem as áreas de competências que têm que ser possuídas e toda a avaliação de conhecimentos e os júris de certificação garantem que as pessoas possuem essas competências. Há dois grandes indicadores que mostram que as pessoas saem mais capacitadas, preparadas para os desafios: a adesão das empresas à INO e os testemunhos das pessoas.

Os processos de certificação são avaliados?

Sim, há avaliação externa, o que implica que há regras e que as competências certificadas correspondem às possuídas.

Uma das críticas é que os adultos não aprendem disciplinas formais.

Desminto. Há regras a cumprir que têm a ver com o cumprimento dos procedimentos necessários.

Um adulto pode chegar com o 6.º ano e sair, em poucos meses, com o 12.º?

Pode acontecer. Há uma ruptura com a lógica de disciplinas, das metodologias de ensino e aprendizagem para uma lógica mais abrangente de evidenciar o que o adulto sabe e integrar a sua experiência. Um autarca com o 6.º ano não tem experiência e competências que lhe permita terminar o secundário? Não tem mais do que um jovem de 18 anos que conclui o secundário? Não vou preocupar-me com o tempo que as pessoas levam a adquirir um certificado. Eu preocupo-me se o mecanismo da avaliação está a ser cumprido com rigor. Quem passar pela INO tem que passar por todos os saberes. Os nossos alunos têm que demonstrar competências.

Há quem receba subsídios para estar na INO?

Só os adultos que frequentam cursos de educação formação profissionais.

Não são os desempregados

O problema é que para frequentar esses cursos, implica estar desempregado.

Mas não se paga aos adultos para ir para as INO?

Não. Não há uma espécie de oferta de brindes para as pessoas virem para as INO. Têm vindo porque sentem necessidade em se qualificar. Essa é de longe a principal razão. A crise tornou claro que sem qualificações não há futuro e que os empregos que desapareceram foram os que exigiam menos qualificações.

Não se qualificam pessoas para ficar bem nas estatísticas, como dizem alguns críticos?

Que mal é que existe em o país ter uma boa imagem? Essas pessoas preferiam que apenas 20 por cento dos adultos acivos possuíssem o ensino secundário? Essa era a imagem do país.

Nessa crítica está implícita a rapidez com que todo este processo é feito.

O que há a criticar é não ter sido feito antes. Foi feito com rapidez, mas nestas coisas da educação é preciso agir com rapidez. A grande diferença é que as medidas que constam da INO foram tomadas como prioridades pelo governo e foram associados meios para atingir estes resultados. Os centros RVCC já existiam, assim como o ensino profissional, a formação de adultos... Porque é que não produziam resultados? Porque faltava a prioridade política, os meios e a massa crítica. Com aquele ritmo levaríamos 60 anos, neste momento, são precisos menos de dez anos para convergir com a Europa. Há movimentos que ocorrem numa grande velocidade.

Nessa velocidade não se perde qualidade?

O primeiro pilar da qualidade é a quantidade. Digo-o com toda a convicção. Sabemos que alunos de determinadas vias de ensino aprendem a fazer exames e a tirar notas, mas não sabemos se sabem alguma coisa quando acabam. Isso não acontece com os nossos alunos porque são obrigados a demonstrar competências.

Porque é que não se fez antes esta mudança?

Porque há um factor social muito forte que tem a ver com o valor dos diplomas escolares. São muito valorizados. A democratização de acesso implica verdadeira abertura social e de mobilidade, o que cria pressão junto de determinadas elites que não deixaram de reagir. Há uma democratização mal tolerada do acesso aos diplomas escolares.

A INO é um ensino mais caro?

Não sei.

Os métodos de ensino são diferentes, há turmas mais pequenas...

Não, não. São métodos organizativos diferentes. Quanto é que poupava com a diminuição do abandono precoce ou com a retenção escolar? É preciso fazer as contas de ambos os lados. A maneira como a escola se organiza para atender os alunos, em vez destes serem todos tratados por igual e depois cada um tira aproveitamento se for capaz.

Têm sido feitas muitas campanhas publicitárias. Gasta-se muito dinheiro?

Não sei, os resultados são claramente positivos. Sem ela não teríamos atingido tantos adultos. A marca da INO é uma boa marca, tem boa imagem, dizem os estudos de avaliação. Nem as críticas conseguem destruir a imagem positiva que tem a INO. Mas seria trágico que depois de criado o sistema, deixássemos passar a ideia que desapareceu, porque a presença pública é importante. Fazem-se campanhas a favor da qualificação, pode haver dinheiro mais bem gasto do que este?

Vê com maus olhos a possibilidade de alterar a lei de acesso ao ensino superior por causa do aumento do número de alunos que entram pela INO?

Há pessoas que fazem percursos brilhantes numa modalidade que não lhes dá acesso ao ensino superior e para isso têm que fazer um exame. Se o ensino superior decidir alterar as regras, que faça o que entender. Não vejo que os adultos que entram sejam piores do que os outros e são muito úteis.

Porquê?

Porque o nosso sistema precisa de qualificações, não temos licenciados a mais, são pessoas que fazem um enorme esforço, que dão um enorme contributo. Fico muito satisfeito que os nossos alunos tirem muito boas notas nos exames do secundário.

 

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