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Correio da Educação

Correio da Educação

Nota introdutória

 

Deixamos este texto matricial duma publicação dos professores liceais com uma longevidade invejável – de 1926 a 1973 – pela qual se podem medir os itens programáticos aqui expressos, em texto de abertura da sua direcção que se manteve sempre a mesma, tendo à frente o Professor José Tavares do antigo liceu de Aveiro.

 

Vale a pena perguntar:

Qual a actualidade dos seus propósitos?

Como conseguiram esses nossos mestres, felizmente, alguns ainda entre nós, superar tantas e tais barreiras, para, durante tanto tempo, “levarem a sua carta a Garcia”?

Como poderíamos, entre nós comentar textos como este de modo a retirar dele inspiração e luz que nos proporcionem aceder a um novo alcance da realidade didáctica, pedagógica e escolar que nos cerca?

É útil revisitar o passado quando ele tem coisas tão boas que no seu tempo tocaram a excelência, a qual não podemos deixar de visar também nós. Os trezentos e tal números da revista “Labor” podem ser consultados nas bibliotecas dos antigos liceus ou nas principais bibliotecas públicas.

 

LABOR

Revista trimestral de educação, e ensino e extensão cultural

Directores e editores: José Tavares e Álvaro Sampaio

ANO I, Aveiro, Janeiro de 1926, n.º 1, páginas 3 a 5

 

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Fala-se tão insistentemente do atraso do ensino secundário; vê-se tanta gente preferir-lhe os primores do: ensino congénere doutras épocas, que se torna necessário, e até urgente, defendê-lo no que ele tiver de defensável, e melhorá-lo no que realmente apresentar digno de censura.

Parece-nos, porém, que há, um grande exagero, quando não ignorância e má fé, nas. apreciações dos censores. Cremos que não são coisa que evoquemos saudosamente as aulas de Português, de Francês, de Inglês, de Ciências-Naturais, de Matemática, de História, de Geografia e 'de Desenho, com que nos mimoseavam a grande maioria dos nossos mestres. Vai passado o tempo, felizmente, em que se não curava propriamente da educação do estudante; em que qualquer disciplina era mero pretexto para inconcebíveis exercícios de memória, e estamos a ver, em, espírito, o fero magister a tomar a lição: punha inquisitorialmente as lunetas, e, de olhos fitos no livro, ia verificando com todo o escrúpulo se ao aluno "escapava" alguma das palavras do texto marcado, ou se alguma vírgula deixava de ser por ele levada em linha de conta!

 

Ora os alunos de hoje não sairão dos liceus com um cabedal de conhecimentos que assombre; não papaguearão ipsis verbis os compêndios; mas,  com certeza, possuem uma cultura geral, uma disciplina de espírito e uma educação mais perfeitas 'e harmónicas do que os desses tempos ditos mais cultos e felizes do que os nossos.

 

Quer isto dizer que devamos embasbacar-nos diante das excelências do bom ensino que já se vai ministrando, e cruzar os braços, à espera de que alguém, lá para o futuro, se encarregue de lhe dar novo impulso? De modo algum: cumpre ao professor esforçar-se constantemente por melhorar, aplicando os mais sãos e racionais preceitos pedagógicos e didácticos modernos, e mostrar aos pais dos seus alunos, e mesmo aos estranhos, o que ensina e como ensina.

 

Foi este pensamento que deu origem a esta publicação. A ânsia do progresso, o desejo de aperfeiçoar o que julguemos defeituoso trouxe-nos a esta tentativa de revista liceal, que não é a primeira entre nós, mas que não tem, antes de si, outra com o mesmo carácter. Eis o nosso programa, que, em poucas palavras, eloquentemente dirá o que temos em vista: aqui mostraremos até aonde vão os nossos esforços em ensinar e investigar; aqui exporemos o que pensamos da pedagogia e da didáctica do ensino secundário nos seus diferentes distritos; aqui publicaremos e discutiremos os diplomas oficiais que nos digam respeito; aqui defenderemos tudo quanto possa contribuir para o aperfeiçoamento do ensino secundário e para o engrandecimento da classe do professorado liceal; como meio de extensão de cultura, aqui inseriremos pequenos trabalhos e artigos científicos e pedagógicos, solicitados a altos espíritos de Portugal, e mesmo do estrangeiro; aqui, finalmente, daremos conta de tudo quanto se prenda com a vida interna e missão educativa do estabelecimento de ensino onde com um afinco e fé inabaláveis transmitimos conhecimentos e moldamos caracteres. [s.n.]

Pensámos muito tempo sobre o nome com que baptizaríamos a revista. Nenhum nos satisfazia porque ou não traduzia suficientemente o nosso fim e pensamento, ou nos parecia enfático e pedante, e nós queríamos apresentar aos leitores somente aquilo que o título da publicação fizesse esperar. Um pouco mais, sim, se tal coubesse em nossas forças; menos, não, que seria vergonhoso.

Um dedicado amigo, que é ao mesmo tempo um dos mais brilhantes espíritos de Portugal, na actualidade - o Sr. Carlos Duarte -, veio em nosso auxílio e tornou-se, sem querer, o paraninfo da revista. Tratando dos nossos projectos, concluía ele em carta, depois de gracejar a propósito das nossas hesitações – “Folgo muito com as boas notícias da revista que, espalhando cultura, virá estimular as actividades intelectuais do público e será simultaneamente órgão dos professores que trabalham a sério no liceu e a sério tomam a sua nobre missão, – da revista Labor, por consequência", Assim nasceu o nome. Quanto a nós, sentimo-nos muito honrados por ter aproveitado a sugestão do ilustre homem de letras, cujo talento é tão grande, pelo menos, como a sua modéstia.

Labor? Sem dúvida! Sempre temos levantado esta bandeira, ensinando e educando; é debaixo dela que nós queremos mostrar, quem nos ler, como ensinamos e educamos e quanto nos vamos esforçando por que os clamores contra o Ensino Secundário se tornem cada vez mais débeis e, sobretudo, cada vez mais raros.

A DIRECÇÃO”

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