No presépio
Campos Monteiro
Do berço em roda – tinge-se o nascente
da madrugada nos subtis cambiantes –
é numeroso o grupo, e diferente
a expressão que se lê nitidamente
no olhar de cada um dos circunstantes.
De joelhos, um Pastor olha a Criança,
e alegre balbucia – “Ó Salvador!” –
E sobre a sua alma ingénua e mansa
desce o clarão de bem-aventurança
que há-de irromper um dia no Tabor.
Queimando incenso e mirra – “É o Rei!”
– murmuram os Magos, vindos do Oriente. E já,
conforme as profecias asseguram
'nas mãos franzinas de Jesus procuram
o restaurado cetro de Judá.
O bondoso José, meio curvado,
proclama: – “É Deus!” - E olhando o céu profundo,
sorri, ao ver o homem libertado.
O Bem domando a serpe do Pecado
e a Liberdade iluminando o mundo.
Só de Maria o rosto, que descora,
revela um sofrimento extraordinário,
– “É o Mártir!” – diz consigo. E à luz da aurora
que os montes de oiro e púrpura colora,
avista, ao longe, o morro do Calvário...
In Dominus Tecum!. Curso Alegre de Latim, Artur Bivar (Frey Gil, dir.) Braga, 25 de Dezembro de 1926: 1.