Toadas de Natal (3)
DIA DE NATAL
Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
De falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
António Gedeão (Lisboa, 1906-1997)
Natal… Natais, Vasco Graça Moura (ant.), Público, 05: 239
Outro Natal.
Outra comprida noite
De consoada,
Fria, vazia, bonita só de ser imaginada.
Miguel Torga (S. Martinho de Anta, 1907 – 1995)
Natal… Natais, Vasco Graça Moura (ant.), Público, 05: 249
A ESTRELA
Eu caminhei na noite
Entre silêncio e frio
Só uma estrela secreta me guiava.
Grandes perigos na noite me apareceram:
Da minha estrela julguei que eu a julgara
Verdadeira sendo ela só reflexo
De uma cidade a néon enfeitada.
Sophia de Mello Breyner Andresen (Porto, 1919-2004)
Natal… Natais, Vasco Graça Moura (ant.), Público, 05: 276
NATAL
Hoje é dia de Natal.
O jornal fala dos pobres
em letras grandes e pretas,
traz versos e historietas
e desenhos bonitinhos, e traz retratos também
dos bodos [festins], bodos e bodos
Hoje é dia de Natal.
- Mas quando será de todos?
Sidónio Muralha (Lisboa, 1920- )
Natal… Natais, Vasco Graça Moura (ant.), Público, 05: 279
A PROPÓSITO DO NATAL
Após o bem conhecido episódio da Estrela do Oriente
o colérico Herodes gritou aos seus sicários:
“Matem as crianças;
matem as criancinhas!”
Egito Gonçalves (Matosinhos, 1922-2001)
Natal… Natais, Vasco Graça Moura (ant.), Público, 05: 286
NATAL
Há um sapato pequeno para encher de brinquedos:
um sapatinho azul
como uma história antiga.
Há uma espera no olhar
da criança que espera
a sonhar cavaleiros e canções.
Fernando Guedes (Porto, 1928- )
Natal… Natais, Vasco Graça Moura (ant.), Público, 05: 315
PUER NATUS EST NOBIS
Dos contos de fadas da
minha infância, este da Divina
Criança era dos mais maravilhosos […]
Inês Lourenço (1942- )
Natal… Natais, Vasco Graça Moura (ant.), Público, 05: 339
À AVÓ
Ficou vazio o teu lugar à mesa. Alguém veio dizer-nos
Que não regressarias, que ninguém regressa de tão longe.
[……………………………]
No outro Natal, quando a casa se encheu por causa
das crianças e um de nós ocupou a cabeceira,
não cheguei a saber
se era para tornar a festa menos dolorosa,
se para voltar a sentir o quente do teu colo.
Maria do Rosário Pedreira (Lisboa, 1959)
Natal… Natais, Vasco Graça Moura (ant.), Público, 05: 359