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Correio da Educação

Correio da Educação

Inês Silva*


            Fechámos 2009 e abrimos 2010 a falar em solidariedade, o que se opõe a egoísmo ou mesmo a individualismo. O ser humano, na qualidade de solidário, assume-se como um indivíduo que, sem ser individualista, atende às diferenças de outro indivíduo, considera-o diferente e actua no sentido de esbater a diferenciação. É de louvar o indivíduo nesta sua luta de promover a generalização de condições de vida dos outros. É de tomar como exemplo o ser único que promove o colectivo.

 

*Inês Silva - Doutora em Linguística (Sociolinguística). Tem realizado estudos sobre a escrita dos alunos. É autora de várias publicações de carácter didáctico e de carácter linguístico. Na ficção, publicou o romance: A Casa das Heras. É docente no Externato Cooperativo da Benedita.

 


 

Carla Marques*

 

Cada vez mais se verifica uma pressão social de que aquilo que se ensina na escola sirva para alguma coisa. Fotografar será importante num curso de Marketing, realizar desenho técnico num curso de Design, podar videiras num curso de Enologia, programar computadores num curso de Informática. Todavia, esta necessidade de materialização do saber convertido em realização de utilidade pragmática não é nem poderá ser a vertente central e predominante do ensino na sua dimensão geral de formação de seres humanos, futuros cidadãos conscientes e activos. Os nossos alunos, os seus encarregados de educação e até mesmo algumas correntes do poder político vivem obcecados pela importância da aplicabilidade imediata das aprendizagens, mas as escolas não são fábricas de produção em série de executantes. Nas escolas deveria, antes de mais, começar por ensinar-se a pensar, procurando a formação de alunos cultos, conhecedores de diferentes áreas do saber, informados, conscientes e críticos. A componente técnica virá numa fase posterior e poderá ganhar com uma formação globalizante de base um enquadramento mais complexo que a enriquecerá.

 

*Carla Marques - Mestre em Linguística e doutoranda na mesma área; autora de várias publicações de carácter didáctico e de carácter linguístico: docente na Escola Secundária/3 de Carregal do Sal.

 

 

 

 

 

 

 

Dias 21 e 22 de Abril
Centro de Congressos da FIL - Junqueira

O Tema principal dos Dias do Desenvolvimento: “Cidadania e Desenvolvimento” 
Os subtemas:

• Comunicação e Desenvolvimento
• Conhecimento, Capacitação e Transferência de Tecnologia
• Democracia, Estado de Direito, Segurança e Desenvolvimento.

O Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD) irá realizar, nos dias 21 e 22 de Abril de 2010, a Edição de “Os Dias do Desenvolvimento” subordinada ao tema “Cidadania e Desenvolvimento”. (Cirep)

 

Filho do médico Julião Rebelo e de Teresa Gil, baptizado Pedro Julião, foi filósofo, matemático, teólogo, médico e, por fim, papa João XXI. Fez os seus estudos iniciais na escola da catedral lisboeta, seguindo depois para Paris muito jovem, frequentando a Faculdade das Artes parisiense e tomando contacto com as novas correntes da Escolástica. Outros historiadores sugerem que a formação inicial de Pedro Julião terá também passado pela Universidade de Montpellier, onde estudou Medicina e Teologia, dedicando especial atenção a palestras sobre dialéctica, lógica e sobretudo a física e a metafísica de Aristóteles. Conforme a interpretação de alguns manuscritos, poderá ter estado também em Salerno ou na Sicília, onde prosseguiu os estudos médicos. Em breve, a sua fama ecoava pelos círculos da Santa Sé, levando a que o papa Gregório X o chamasse para se tornar seu médico privado. Mais tarde, nomeou-o cardeal-bispo de Túsculo.

Sabe-se que foi professor de Medicina na Universidade de Siena, entre 1245 e 1250, onde escreveu algumas obras principais, de entre as quais se destacam as Summulae logicales, o manual de referência sobre lógica aristotélica durante mais de trezentos anos nas universidades europeias. Tendo aderido à filosofia escolástica, Pedro Julião teria sido o primeiro comentador português da obra De animalibus, de Aristóteles.

Em 1272, Pedro Julião foi nomeado arcebispo da secular cidade de Braga e de toda a sua área de influência, sucedendo a D. Martinho Geraldes. Após a morte do papa Adriano V a 18 de Agosto de 1276, Pedro Hispano foi eleito papa no conclave de 13 de Setembro, sendo coroado no dia 20 de Setembro de 1276, com o nome de João XXI. Enquanto sumo pontífice tentou fazer reintegrar os cristãos dissidentes do Oriente na Igreja Romana.

Foi, igualmente, um diplomata activo, mediando os conflitos entre Filipe de França e Afonso de Castela, e procurou solucionar os litígios entre o português D. Afonso III e a Santa Sé. Mandou o bispo de Paris fazer uma inquirição sobre as eventuais «doutrinas erróneas» que se difundiam na Universidade local, na sequência da qual Estêvão Tempier fez abusivamente, em 1277, a célebre condenação de duzentas e dezanove proposições.

João XXI faleceu a 20 de Maio de 1277, após ter ficado gravemente ferido num desastre na Catedral de Viterbo, cujas obras acompanhava, não sobrevivendo aos ferimentos sofridos na derrocada dos aposentos em que se encontrava. Ficou por dizer, pois, a sua última palavra sobre os acontecimentos parisienses. O prelado jaz ali sepultado, junto de outras figuras eclesiásticas, até aos dias de hoje.

Pedro Hispano foi considerado por alguns vultos do seu tempo e posteriores, como clericus universalis, magnus in scientia, dado que foi um homem formado em todos os ramos do saber reconhecidos na época. Houve mesmo quem o classificasse scientiae phisicali et naturali repletus ejá no século XIV, chamaram-lhe «egrégio varão das letras» e «grande filósofo».

A doutrina filosófica de Pedro Hispano situa-se dentro do quadro mental da época. Estudou e discutiu os textos de Aristóteles e seus comentadores árabes, englobando as tendências doutrinais de Avicena e de Santo Agostinho, os diferentes conceitos de alma e substância, entre os muitos quesitos aristotélicos. A Pedro Hispano é atribuído o tratado Summulae logicales, que tanta repercussão teve entre os eruditos, não só na sua época, mas, e principalmente, mais tarde. Esta obra de lógica medieval circulou por toda a Europa, em talvez mais de duzentas e cinquenta edições, reduzidas nas diferentes línguas europeias, e tornou-se, na maior parte das universidades, um livro indispensável até ao século XVI. Com esta obra Pedro Hispano tornou-se o «pedagogo da Europa».

Não estando em causa a estatura cultural do papa João XXI, o facto é que investigações mais recentes levantam dúvidas pertinentes sobre a real autoria de alguns textos. Os estudos recentes de José Francisco Meirinhos, da Faculdade de Letras do Porto, e de Angel D'Ors, da Universidade Complutense de Madrid, sustentam que os livros que até aqui lhe têm sido atribuídos devem ser distribuídos por três ou mais autores, duvidando os mesmos investigadores que o papa João XXI tenha sido professor de Medicina.

Os referidos especialistas referem que, naquela época, a Hispânia se identificava com a Península Ibérica, o que significa que todos os Pedros nela nascidos seriam «Petrus Hispanus». Pouco a pouco foi-lhe sendo atribuída a autoria de todos os livros assinados por Pedro Hispano, o que representava muitas dezenas de livros das mais variadas disciplinas: filosofia, lógica, medicina, psicologia, etc.

Muito controversa tem sido também a identificação da autoria da primeira obra Scientia libri de anima, dado que em nenhum inventário medieval havia qualquer indicação desse tratado, escrito por Pedro Hispano. O alemão Grabmman, estudioso do filósofo português, encontrou em Madrid uma cópia dos fins do século XIII que comprovaria a sua teoria, baseado na forma expositiva adoptada, a doutrina e concepção dos princípios expostos e, até, asua interligação com a ciência natural e a medicina dos antigos e dos Árabes. Para o referido especialista não restaram dúvidas quanto à autoria do português. São treze tratados, estudando sistematicamente as matérias da psicologia empírica e da metafísica tal como era entendida no seu tempo. Seria, aliás, como cientista habituado à observação médica que o filósofo português concebe a sua doutrina da alma humana, penetrando nos seus mistérios, referindo conceitos e princípios, aprendidos na filosofia árabe. Os seus tratados e comentários sobre o problema da alma congregam todo um repositório do saber medieval sobre a constituição anímica do homem, abrindo pistas sobre o âmbito da pesquisa filosófica, que, no seu entender, abrange o conjunto das coisas criadas.

Como se disse, Pedro Hispano projecta-se para além das reflexões teológicas e filosóficas, surgindo associado a outros eventuais escritos de psicologia e metafísica, teologia e medicina. Nesta última especialidade, por exemplo, Pedro Hispano deixou uma importante herança, dado que exerceu esta arte com autoridade e baseada nos conhecimentos adquiridos na Sicília ou em Salerno.

Grande parte desses textos continua inédita e a aguardar uma identificação aturada, embora alguns deles sejam apenas simples comentários aos autores antigos, especialmente Galeno e Hipócrates. Tanto o Thesaurus pauperum, obra que conheceu mais de oitenta edições em várias línguas, como o Regimine sanitatis, que lhe vem apenso,são tratados de medicina popular, com conselhos e preceitos sobre as melhores dietas a seguir para conservar a saúde. Na primeira das obras, o médico revela medicamentos a serem administrados aos pobres seguindo as doutrinas de Galeno e dos autores clássicos gregos, romanos e árabes. Nesse livro, menciona o tratamento de algumas situações urológicas, entre elas o tenesmo, a estrangúria e a inchação dos testículos. Outros livros, remetidos para o núcleo das autorias ambíguas, são igualmente o Breviarium de aegritudine oculorum, o Liber de conservanda sanitate e outros regimentos de sanidade.

             Há muitos anos atrás, no início do século passado, os pobres já existiam, distinguindo-se das outras pessoas porque andavam descalços, cobertos com roupas andrajosas, sujos e estendiam a mão à caridade de quem passava.

Lembro-me dos meus tempos de criança que havia alguns pobres que tinham casas certas, na cidade do Porto, onde iam em determinados dias da semana para receberem a sua esmola. Esta consistia num valor em dinheiro, acrescido muitas vezes de um pão com qualquer coisa dentro e uma malga de sopa e, em certas ocasiões, levavam também alguma roupa que já não servia à família. Talvez estes fossem os chamados “pobres envergonhados”.

 

Marta Oliveira Santos – Licenciatura em Filologia Românica; colaboradora de várias publicações.

 

Filho de António Ferrão, comerciante, fez a instrução primária em Seia, inscrevendo-se de seguida no famoso Colégio de S. Fiel, dos jesuítas, situado em Louriçal do Campo (Castelo Branco). Depois dos estudos liceais, matriculou-se em 1901 na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, tendo obtido os graus de bacharel (1907), licenciado (1908) e doutor (1911). A sua vida estudantil ficou marcada pela greve académica de 1907, aparecendo Abranches Ferrão como um dos "intransigentes" (cf. Xavier, 1962).

 

 

«FERRÃO, ANTÓNIO DE ABRANCHES»,in António Nóvoa (dir.), Dicionário de Educadores Portugueses, Porto, Edições Asa, 2003, pp. 532-533, com adaptações.

 

 

 

 

 

 1. Há momentos na vida das pessoas, das comunidades e dos povos que marcam rotas de séculos. O 5 de Outubro de 1910 foi um deles. Teve, porém, um preâmbulo. No Porto, como havia sido já em 1820. Foi o 31 de janeiro de 1891. Quando um punhado de republicanos, sob a orientação de Manuel Alves da Veiga, avançaram, e a revolta foi esmagada.

 

 

 

J. Esteves Rei - Professor Catedrático de Didáctica das Línguas e de Comunicação, na UTAD, Vila Real

 

A ASA celebra em 2010 o Ano Maria Alberta Menéres, em homenagem àquela sua Autora que comemora este ano o seu 80º aniversário.


Embora tenha também alguma obra poética dirigida ao público adulto, Maria Alberta Menéres é sobretudo (re)conhecida como autora de livros infantis e juvenis, tendo sido distinguida em 1986 com o Grande Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças “pelo conjunto da sua obra literária e pela manutenção de um alto nível de qualidade”.

A “Biblioteca Maria Alberta Menéres”, que a ASA vem publicando há mais de 20 anos, reúne justamente uma parte substancial da ficção da Autora dirigida às crianças, com merecido destaque para o “bestseller” Ulisses, que conta já com 35 edições e mais de 600 mil exemplares vendidos.

No âmbito das celebrações do Ano Maria Alberta Menéres, a ASA vai levar a cabo um vasto conjunto de iniciativas, entre as quais o lançamento, em Abril, de uma obra inédita da Autora sobre Luís de Camões.

Camões, o Super-Herói da Língua Portuguesa, assim se intitula esta “biografia romanceada à minha moda de um dos maiores poetas portugueses” – diz-nos a Autora, para logo a seguir acrescentar: “Com o seu feitio destemido e irreverente, Camões levou uma vida aventureira que nada tem a ver com a ideia de ‘poeta maçudo e desinteressante’ que hoje se lhe atribui. Era preciso mostrar que Camões, para os padrões da sua época, bem poderia ter sido um super-herói como aqueles que actualmente povoam o dia-a-dia das nossas crianças, e foi esse exercício que me decidi a fazer.”

Para além do lançamento deste inédito, a ASA vai ainda promover uma homenagem pública a Maria Alberta Menéres, como forma de assinalar a longevidade e multiplicidade da sua carreira. Apenas a título de exemplo, destacam-se as suas funções de Directora do Departamento de Programas Infantis e Juvenis da RTP (1974 a 1986), de Assessora do Senhor Provedor de Justiça como responsável pela linha «Recados das Crianças» (1993 a 1998) e de autora das letras, em seis anos consecutivos, das canções da campanha «O Pirilampo Mágico», em cooperação com a Antena 1.

Outro dos eventos previstos no âmbito da celebração do Ano Maria Alberta Menéres é a realização de um Congresso Nacional sobre a sua carreira de escritora. Com esta iniciativa, a ASA pretende promover e aprofundar a análise sobre a obra literária da Autora, que inclui poesia para adultos, obras de cariz pedagógico e ficção infanto-juvenil, esta última em forma de conto, poesia, BD, teatro e novela.