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Correio da Educação

Correio da Educação

16 Dez, 2010

Inês*

**Altino Serrano

 

Os olhos da ausência, num Natal

 

Entrou no shopping como quem entra num túnel iluminado. Acabava de chegar do Douro e tinha pressa de se perder no rebuliço das gentes em fim-de-semana.
Na primeira esquina dobrada sente sobre si um olhar fixo, vindo de um rosto feminino, ainda jovem, rasgado e claro como a luz do dia. Não o retém, desvia-se e continua sem qualquer fim mais definido, àquela hora, do que o simples deambular por um centro comercial.
Vagueia pelos corredores amplos, formigando de gentes que se deslocam lentas, aparentemente, a matar o tempo ou à espera de quem não vem. À hora marcada e em frente à Dielmar, onde fora tratar de um fato, chega a Agnuska, uma rapariga suíça do seu tempo, com quem se encontrava de longe a longe, desde a sua estadia naquele país.
Ela nunca conseguira grande integração social na cidade do Porto, preferindo partilhar a nostalgia do seu país com pessoas que dele guardassem quaisquer recordações. E como ele aí vivera alguns anos, em serviço oficial, mantinha esse convívio mais como solidariedade com a senhora do que por qualquer razão verbalizável ou devida à sua passagem pelas montanhas da Heidi.
Como era quase Natal e haviam marcado, em tempos, esse encontro, ele ali estava para o cumprir. Foram juntos tomar qualquer coisa ligeira, pois a hora do cinema aproximava-se. Terminada a fita e cumprida a desobriga da solidariedade que desde há anos se impusera para com Agnuska – não sabendo mesmo por que razão a mantinha – despediram-se, pois tinham os carros em lugares opostos do parque.
Eram onze horas e pensava no que fazer, sozinho, numa cidade que bem conhecera, quando estudante, mas que sentia fugir-lhe das mãos como enguia acossada por pescador fortuito.
Segue de passo lento, liberto das responsabilidades institucionais que deixara para lá do Marão. E nem a proximidade do Natal lhe impunha grandes preocupações com as compras de presentes, pois não tinha família e estava divorciado havia anos. Era sábado à noite, o limiar entre duas semanas, ou um tempo livre para homens livres, como costumava dizer.
Casualmente, olha à sua direita e detém-se na montra de uma loja de artigos desportivos. Porque guarda da juventude o hábito de dar grandes caminhadas, entra, para ver as novidades daquilo que no seu tempo se chamavam “sapatilhas”, transformadas hoje em infindáveis tipos de ténis que enchem as paredes da loja.
– Precisa de ajuda? – ouve da sua esquerda, numa voz suave, saída de um rosto delicado, com um sorriso medido e um olhar que reconhece...

 

 

 

 

 

* In Hoje em Belém. Contos de Natal, José Leon Machado (org. ed. e ver.), Edições Vercial, 2010, http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/evercial
** Altino Serrano é o pseudónimo de José Esteves Rei, professor na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal. Altino Serrano “é o rosto de dois amigos que se encontraram em viagem de comboio, o ‘Arbalète’, entre Belford e Zurique, numa tarde fria de Outono, em 1978” – como se lê em “Registo de identificação”, na sua primeira coletânea de poemas com o título, Hinos… em Louvor da Terra, editada pela Universidade Fernando Pessoa (Porto, 1996: 3).

 

*Inês Silva

 


Boa notícia… a de que subimos no ranking da OCDE. Boa notícia… a de que as retenções baixaram. Boa notícia… a de que os professores foram os grandes responsáveis por estas boas notícias.
A televisão vai mostrando os políticos a regozijarem-se com a aprendizagem de sucesso dos nossos alunos e com o trabalho de todos os professores. Convém-lhes neste momento tecer alguns elogios a quem é sistematicamente espezinhado e culpado dos males maiores da sociedade das (in)competências.

 

* Inês Silva - Doutora em Linguística (Sociolinguística). Professora Adjunta Convidada na Escola Superior de Educação de Santarém. Tem realizado estudos sobre a escrita dos alunos. É autora de várias publicações de caráter didático e de caráter linguístico. Na ficção, publicou o romance: A Casa das Heras.

 

O Ministério da Educação confirmou que, a partir do próximo ano letivo, a disciplina de Estudo Acompanhado que, desde há quatro anos tem sido aproveitada para reforçar o ensino de matemática, passará a ser apenas para os "alunos que revelem necessidades de apoio e não para toda a turma como atualmente". Segundo o ME prevê-se que o Estudo Acompanhado passe a ter dois tempos semanais. (Público)