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Correio da Educação

Correio da Educação

* Inês Silva



A melhoria das condições de vida é um dos fatores que tem levado o homem a severas transformações sociais, económicas e até políticas. E é para isso que ele luta e trabalha. Por detrás dessas condições de vida está a ideia de felicidade. No fundo, o que o move é a felicidade. Mas, por vezes, ela não está onde julga estar – no mais complexo, no mais acessível, no mais confortável. Também não está na precariedade, na fome, na ignorância, claro. Pode simplesmente estar naquilo em que se acredita ser bom e bem feito.
Quando eu andava na escola primária (na altura assim designada), os alunos usavam bata para disfarçar as roupas que traziam dos irmãos ou dos vizinhos mais abastados. Note-se que já ninguém ia roto ou descalço. Mas as camisolas eram mais curtas nas mangas e as calças tinham em baixo as marcas de bainhas descidas vezes sem conta. Quando se rasgavam nos joelhos, levavam um remendo, às vezes em forma de boneco. Nos intervalos, corria à volta da escola, sem gradeamento, no meio do pó branco, chapinhava nas poças de água, subia a um ou outro morro e ia até à casa de banho, pequena, sem apetrechos. O lanche era pão com manteiga que levava de casa e leite aquecido pela auxiliar numa grande panela de alumínio, servido em copo de plástico por uma concha. Todos bebiam leite e comiam pão. Houve um ano em que serviram bolachas de água e sal e queijo, mas nem todos gostavam. As crianças da altura estavam mais habituadas a sopas e a outras comidas quentes. Frio, só mesmo o pão. Não havia bolicaos nem donuts nem kinders. A pequena bolacha Maria aquecia-se na boca, ao ser mastigada devagar. Ia-se a pé para a escola de pasta de uma só cor: castanha, azul, ou preta (na altura não havia mochilas com super-homens ou  barbies). Sendo uma pasta, servia para levar os livros e cadernos e era o que bastava. As horas dentro da escola, por vezes com chuva a cair em certos cantos, eram passadas a ler textos (todos os dias e em vários momentos), a fazer exercícios de compreensão textual, exercícios de caligrafia, exercícios de ortografia, redações e mais redações, reduções e outros problemas de matemática. Aliás, não havia uma tarde em que não se resolvessem problemas de matemática no quadro, lembro-me bem (e eu que não gostava de matemática! Paciência, minha filha!). Às vezes, às sextas, fazíamos trabalhos manuais (ou de expressão plástica, como queiramos chamar). Tudo isto só com uma professora. Não conheci outros na escola primária.

 

* Inês Silva - Doutora em Linguística (Sociolinguística). Professora Adjunta convidada na Escola Superior de Educação de Santarém. Tem realizado estudos sobre a escrita dos alunos. É autora de várias publicações de caráter didático e de caráter linguístico. Na ficção, publicou o romance: A Casa das Heras.

O Governo admitiu a não abertura de alguns Cursos de Educação e Formação por falta de dinheiro para os financiar, mas garante que um terço das turmas na região de Lisboa e Setúbal poderá arrancar em Novembro. Esta informação foi dada durante uma audição na Comissão de Educação e Ciência, no Parlamento, em que a secretária de Estado do Ensino Básico e Secundário, Isabel Leite, afirmou que o Governo está apostado na qualidade da formação prestada, mas que o país atravessa uma situação de “emergência dramática”, por causa da dívida pública. (Público)