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Correio da Educação

Correio da Educação

 

* José Matias Alves

 

Dizia Roland Barthes, o célebre linguista e semiólogo francês precocemente desaparecido, na sua luminosa Lição, que há uma idade em que se ensina o que se sabe. É a tarefa comum dos que estão incumbidos da função docente: passar às novas gerações o património de valores, conhecimentos, técnicas, artes, culturas; ensinar as teorias, os métodos, as leis, os códigos, os factos; ensinar o que já se descobriu, o que já se inventou.

Mas vem em seguida a idade de ensinar o que não se sabe. Ensinar a incerteza, o obscuro, a viver sem teto, nas ruínas do tempo. Ensinar as rotas que ignoramos. E como é que se ensina o que não se sabe?

 

Através da procura. Do método. Não sabemos, mas procuramos respostas para os problemas do tempo. Ensaiando, tateando, experimentando. Formulando e testando hipóteses capazes de iluminar e resolver os velhos velhos problemas. E os mais novos. Os que derivam da deriva económica, da especulação sem fim. Os que surgem no cenário de uma escolarização obrigatória de 12 anos que vai transformar as escolas em palcos e bastidores ainda mais complexos. Em textos muito mais difíceis de escrever e decifrar.

Ensinar o que não se sabe exige uma outra disposição de autoridade, uma outra postura didática, uma outra relação pedagógica, uma outra atitude. De mais escuta, de mais lucidez, de mais exigência, de mais humildade.

Será esta a navegação sucedida, seguindo aliás os passos dos navegadores portugueses. Navegando sem o mapa que faziam, para deste modo descobrir outros horizontes. E esta postura reclama ousadia e coragem. A prática sistemática do direito de autoria. É este o repto e o desafio. A condição sine qua non para sairmos do labirinto onde todos nos vamos perdendo.


* José Matias Alves é investigador, doutor em Educação e professor convidado da Universidade Católica Portuguesa.

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