* Rosa Duarte
Ao regressar de carro pela zona do Feijó, hoje um dia pingado e de um cinzento brilhante, ouvia na Antena 2 uma notícia sobre a estreia de logo à noite de uma peça de teatro escrita por Lars Norén (tradução de José Luís Peixoto) encenada pela companhia Aloés, sobre o conhecido caso do jovem alemão que feriu colegas e professores e, de seguida, atirou sobre si. Espetáculo anunciado que promete. Será mais um bom trabalho de equipa (literatura em palco) para inevitavelmente refletirmos: Que sociedade é a nossa? Que escola é a nossa?
Há dias, numa das minhas turmas de décimo ano, no espaço de opinião que inicia os primeiros minutos de cada aula, um dos alunos escolheu o tema do
bullying para apresentar o seu ponto de vista. Foram recorrentes as perguntas: Conheces alguém vítima de
bullying? O que fizeste? Considerámos que a questão é cada vez mais séria: Qual é o grau de responsabilidade de quem sabe? As estatísticas apresentadas pelo aluno do número estimado de vítimas impressionaram. O repentino silêncio ditou um pensamento conjunto: Quantos escondem a violência de que são alvo? Então, a referida pesquisa apresentada sobre o
bullying, sobre as suas ações reincidentes, persistentes, levou-nos à discussão da relação desigual sempre presente. De personalidades, mais que não seja. De valores educacionais distintos na formação de cada indivíduo, pressupusemos com convicção. Que se manifestam sobretudo na relação de trabalho, embora não só. E as escolas são, cada vez mais, amplos espaços de grande interação e de grande necessidade de gestão de conflitos. Com um contido número de pessoal especializado. E natural crescimento infanto-juvenil que favorece os momentos de desafio e de competição, dificilmente controlados. Contudo, concluímos que o
bullyingnão físico ou verbal, mas de pressão psicológica é dos mais difíceis de reconhecer e que pode desembocar rapidamente em diferentes níveis de discriminação, aparentemente de autodiscriminação, e mesmo de exclusão. Que por vezes é feito com grande requinte estratégico. Sobretudo se for entre adultos. Quantos sem queixas nem sinais para denúncia. Com o factor risco de que a vítima venha a potenciar a sua competência para a agressão. À semelhança do caso alemão encenado para o público pelo grupo de teatro português da Amadora.
As lideranças tóxicas, como lhes chama sabiamente José Matias Alves, são uma realidade a evitar. Não há dúvida de que a boa liderança é aquela que sabe reconhecer e cooperar com a equipa que tem, que se fortalece pelas dificuldades partilhadas, pelo orgulho mútuo e pelo espírito integrador. Não apenas devido ao espírito responsável do líder para com o seu grupo, mas intrinsecamente pela boa participação de cada elemento no seio do seu próprio grupo, nas pequenas hierarquias e nos restantes pares. Cada vez mais o maior grau de dificuldade se acerca diariamente dos professores na conjuntura atual, porque sabemos que o nosso bem estar determina o bem estar dos nossos alunos, que é a prova mãe da nossa honestidade como cidadãos e revela o espírito construtivo da nossa classe que não deve ceder a pressões avaliativas nem ter medo da diferença que nos enriquece, felizmente, como pessoas.
* Professora do Ensino Secundário