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Correio da Educação

Correio da Educação

16 Abr, 2012

O fruto da semente

 

* Teresa Martinho Marques



Conheço a Vânia há pelo menos três anos. Uma jovem professora de TIC que se cruzou comigo por altura de um encontro em que divulguei a ferramenta Scratch. Já lecionou na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal e trabalha numa escola perto da minha. No ano que passou desenvolveu um trabalho excelente neste contexto com uma turma de Percurso Curricular Alternativo - 9.º ano. Já frequentou uma sessão prática sobre o Scratch (que fiz no Seminário G 550) e continua a desenvolver um trabalho empenhado com os seus alunos, arriscando investir em ferramentas que poucos ainda usam.


Há poucos dias entrei no Facebook e encontrei esta sua frase junto de uma ficha de trabalho do final dos anos 80, no tempo em que frequentou o 2.º ciclo do ensino básico: E foi assim que me apaixonei pela informática... Linguagem Logo - 88/89 - Esc. Prep. Luísa Todi.


 

Não queria acreditar. A ficha era da minha autoria e fui eu que levei o LOGO para a sala de aula de matemática naquela que foi a minha primeira escola, depois de aos 23 anos fazer um curso na ESE/IPS e me apaixonar sem remédio pelas tecnologias. Coordenei o projeto Minerva e depois estive também ligada ao projeto Nónio. (Deixei aqui testemunho desse percurso, num muito breve encontro virtual com Diogo Vasconcelos.)


E, na altura, 50 minutos de aula para desenvolver este trabalho não eram suficientes. Pedi à escola que se juntassem os quatro tempos em dois blocos de 110 minutos seguidos (tão longe ainda estávamos dos blocos de 90). Pediu-se autorização ao ME da altura; não veio qualquer resposta, mas a escola assumiu a importância do projeto e conseguimos alterar a distribuição horária. Os tempos são o que fazemos deles. Não são bons nem maus por serem mais ou menos longos. Mudem as práticas e perceberão por que é preciso mais tempo quando elas se alteram no bom sentido para envolver mais os alunos e pedir muito mais deles.


Hoje assisto com tristeza à discussão de uma revisão curricular feita, na sua essência, de cosmética educativa, sem que se fale do que deve mudar no interior da sala de aula. E embora saiba que, dentro do espaço sagrado, serei sempre (como sempre fui) a rainha, com eles, dos caminhos que escolheremos, sem me vergar às modas passageiras, incomoda-me esta visão retalhada da educação construída com as ideias diversas/dispersas de quem ocupa o lugar num dado momento da história, sem plano de longo prazo, sem discussão sobre que é verdadeiramente essencial.

A Vânia não foi minha aluna. Eu iniciei o trabalho com uma turma e nos anos seguintes convenci os meus colegas a avançar com esta aventura, da qual resultou a redação de uma monografia publicada pela Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal.

À minha mensagem de espanto e alegria, assinalando a coincidência, a Vânia respondeu: O mundo é tão pequenino! Não me recordo do nome da professora, já lá vão tantos anos! Sei que a experiência durou 2 anos (o meu 5.º e 6.º) nas disciplinas de ciências e matemática, já que a professora era a mesma. E no seguimento, os meus pais ofereceram-me o Spectrum (ainda o tenho guardado!) ;-)

Na educação não podemos ter certezas. Não. Não podemos saber do bem ou do mal que oferecemos ao futuro do mundo. Mas se formos honestos e dermos às nossas crianças o que gostaríamos que dessem aos nossos filhos, não nos podemos enganar. Tem sido a minha máxima sempre e, pelo caminho, vou por vezes recolhendo o fruto inesperado de sementes antigas que plantei num tempo em que era ainda quase uma criança, mas já sabia amar a profissão como mulher feita.


* EB 2,3 de Azeitão e CCTIC – ESE/IPS: http://projectos.ese.ips.pt/cctic/ e http://eduscratch.dgidc.min-edu.pt/     


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