* Rosa Duarte
Viver em open space o fast love num zapping delirante ao som da música psicadélica e batatas fritas de palito pode anestesiar momentaneamente o incómodo da crise económica instalada, implacável para os potenciais consumidores de futuros profissionais promissores
que vão aguardando melhores dias na sua terra, mas a troco da embriaguez dos media empacotados e amizades sociais sem rede, por vezes com digestões difíceis de virtualidade continuada. Nos tempos difíceis, especialmente, os frutos obrigam-se a si mesmos a dar espaço para alguns brotarem mais suculentos. Assim, nos escombros da conhecida música que nos vão dando os grandes grupos económicos e políticos, disparam felizmente os vanguardistas sentimentos dos grupos alternativos que vão respirar uma aragem mais inventiva, porque falam das tentações sonantes e arremessos de legumes mágicos, em projetos e concertos inflamados e inflacionados do nosso tempo, com (The) Temptations, Smashing Pumpkins… Vai-se sobrevivendo com a alegria do som.
da arte, as agressões ecológicas, o árduo caminho da construção da integridade social. Onde anda a boa comunicação intrínseca à preservação do bom entendimento, ao clima de paz e à sustentabilidade? Qual é a forma física do português cuja espinal medula é a alegria de
viver e o reconhecimento de cada falante como ser único e diverso, na sua imaginação e racionalidade?
E continuamos o rol das dúvidas: a que razões se podem agarrar os autores deste novo acordo ortográfico para despender tempo, ideias e dinheiro com o intuito de desferir, ainda que relativos, sérios golpes na prezada etimologia e apreciada plasticidade da nossa língua anfitriã? Todas as mudanças, que são sempre dolorosas aos mais afeiçoados, ao longo da história da língua portuguesa deveram-se naturalmente ao dinamismo da prática da oralidade que vai, aos atropelos, obrigando a língua a algumas atualizações, como esta da fonética. Estas contrariedades arrastam desabafos incontidos como o de: Até parece que já não sei escrever. É um sério desafio ao nosso sentimento de lusa ancestralidade. Mas algo nos diz: não desanimemos porque a nossa vulnerabilidade financeira não atordoou o espírito empreendedor do nosso povo, que continua as suas conquistas, não por terra ou por mar, mas pelo caminho da disseminação da sua língua e cultura… Esperemos que nunca à custa da sua portugalidade. A solenidade do tempo, esse grande escultor também da nossa língua, confronta-nos com os anseios dos nossos mestres intemporais da literatura que clamaram pela árdua, mas inevitável tarefa académica de contextualizadamente repensar a uniformização ortográfica da língua portuguesa em todos os seus recantos. Por isso aqui vai um testemunho conhecido em jeito de ilustração: “…de boamente seguirei qualquer methodo mais accertado, apenas haja algum geral, e racionável em portuguez: o que tam fácil, e simples seria, se a nossa academia, e governo em tam importante cousa se empenhassem.” (Almeida Garrett, Camões: 1825).
Porque os acordos são feitos para discordar, difundo esta minha apressada reflexão num dos mais poderosos meios, democraticamente.
* Professora do Ensino Secundário