Um Ano Difícil Chega ao Fim!
* José Matias Alves
Um ano difícil chega ao fim! Sossegados os professores com uma avaliação do mérito reservada aos contratados que não têm poder de influência e de manobra e diferida para os demais para tempos incertos, acionou-se de novo o Diário da República como agência principal da reforma.
O currículo volta, uma vez mais, a ser alterado seguindo um padrão conhecido, mas não mexendo em nada de essencial nem alterando, só por si, a qualidade das aprendizagens.
As agregações de escolas e agrupamentos voltaram à agenda depois da fúria inicial do governo anterior, em nome de uma escolaridade obrigatória de 12 anos e de uma maior articulação, mas ocultando as razões reais de natureza económica (alguma poupança pouco expressiva) e de natureza política (um suposto mas ilusório maior controlo central).
A organização do ano escolar, com as célebres e pouco sensatas fórmulas de cálculo para a atribuição de recursos às escolas, proclama o célebre efeito Mateus de dar mais a quem tem mais e nega recursos às mais carenciadas, incrementando uma política de discriminação negativa que só vai aumentar as desigualdades e as injustiças.
Os exames no 4.º e 6.º ano, em si mesmos defensáveis, mas criando a ilusão do rigor no final dos ciclos, podem gerar efeitos desastrosos nas práticas de promoção efetiva de aprendizagens e da inclusão social e educativa.
Um ano difícil chega ao fim. É certo que houve atuações positivas. Mas fica a convicção de que se semearam ventos, se aumentou a instabilidade, se dificultou ainda mais a vida nas escolas e de que não se sabe como se há de ir para onde se promete.
* José Matias Alves é investigador, doutor em Educação e professor convidado da Universidade Católica Portuguesa.