Joaquim Azevedo a propósito do ensino profissional
«(...)O nosso país tem seguindo, desde o fim dos anos sessenta do século passado, uma prática política de eliminação progressiva de vias profissionais autónomas antes do 9.º ano, tendo seguido um percurso errático e pouco amadurecido sobre o que fazer no 3.º ciclo, diante do facto indesmentível (mas que a cegueira ideológica de muitos não quer ver) de que oferecer o mesmo “menu” educativo a todos, entre os 13 e os 15 anos, não pode corresponder a oferecer o melhor a cada um. Criaram-se Vias Opcionais do Ensino Vocacional, no 9.º ano, a Educação Tecnológica, os Currículos Alternativos, os Cursos de Educação e Formação, entre outras medidas. Agora surge também e de novo o “ensino vocacional” no 3.º ciclo, apresentado como a penalização para os alunos com mais reprovações na sua trajetória escolar anterior.
As práticas de colocar a 5 de Outubro e o Diário da República a resolver os problemas de aprendizagem dos alunos das nossas escolas são, também elas, históricas e remontam às piores tradições jacobinas, burocráticas e centralizadoras da nossa administração pública. Além da dissipação estúpida de energias e de inestimáveis recursos comuns, esta prática ainda mais neutraliza e gera inação entre os professores a nas direções das escolas; eles e elas é que têm de reunir, debater, decidir, implementar e avaliar; eles e elas é que sabem, eles é que são os profissionais competentes para o fazer. Os professores, reunidos nos competentes órgãos de gestão pedagógica das escolas, em cooperação com os atores sociais mais adequados, a começar pelas famílias, deverão ter a liberdade de decidir o que fazer em cada caso.
Esta mania é desastrosa, além de estúpida; que sabe a 5 de Outubro sobre se a melhor proposta educativa, em cada caso, é um “ensino vocacional” para um trirepetente ou um currículo alternativo, se é um curso de padeiro ou de canalizador no 8.º ano ou no 9.º ano, se é um tempo de apoio especializado num “ninho”, como se faz no programa Fénix, ou a deslocação temporária para uma “turma mais”, de reforço educativo especializado, ou um apoio específico da EPIS e de mediadores familiares, tudo devidamente construído e sancionado pelo Conselho Pedagógico? Sim, sobre isto, que sabe a 5 de Outubro?
Perdemos, umas atrás das outras, as oportunidades para reforçar a autonomia das nossas escolas e para exigir a dedicação e o brio profissional aos nossos professores. Eles é que têm de saber, diante de normas nacionais gerais de gestão curricular, o que fazer em cada caso e em cada escola e concelho, em cooperação estreita com as famílias e em articulação com outros atores locais, como ocorre em qualquer tribunal, hospital e empresa (onde o ministro respectivo não decreta o modo de julgar ou curar ou competir em cada caso…). Desautorizamos, ano após ano, tomando este tipo de medidas, os órgãos de gestão pedagógica das escolas, eles que deviam responder publicamente pelos gigantescos recursos financeiros e técnicos que são, por nós contribuintes, colocados nas suas mãos. (...)» (http://terrear.blogspot.pt/)