Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Correio da Educação

Correio da Educação

O acto de escrever é fundamental nos nossos dias. A escrita está presente nos livros, nos jornais e revistas, nos cartazes publicitários, nas legendas dos filmes, nos e-mails, nos SMS, sendo que estes têm uma forma sui generis.

A escola tem como objectivo dar aos alunos competências para lerem e para comunicarem, por escrito, de forma correcta. Esta actividade de escrita deve ser diária e, no 1º Ciclo, ela deverá ser muito exigente porque a idade das crianças é óptima para memorizar/consolidar regras que, no futuro, evitarão o erro ortográfico. Aliás, verifica-se que muitos alunos chegam ao 2º Ciclo sem hábitos de leitura e com graves lacunas na escrita que, na maioria dos casos, resultam da pouca prática desses hábitos - ler e escrever – no 1º Ciclo.

Parece-me que levar os alunos do 1º Ciclo a escrever com regularidade, criar imitações, pastiches, jogos de palavras, copiar pequenas frases do texto que leram, por exemplo, conduzi-los-á a perder o medo de enfrentar a folha em branco e assim desenvolver-lhes a competência da escrita. Posteriormente, e já no 2º Ciclo, é importante trabalhar o texto que o aluno redigiu. Esta actividade oferece melhores resultados se, depois de redigido o texto pelo aluno, o professor o trabalha com ele, isto é, procura corrigir erros de construção de frase, evita repetições desnecessárias, ajuda a encontrar a palavra certa para a ideia que se pretende exprimir. Isto exige tempo porque o trabalho deve ser individual para que o aluno perceba bem  as correcções. Com esta actividade, o professor dá a ideia ao aluno que um texto é como um brinquedo que é oferecido à criança e que ela o pode desmontar para ver como é feito. Também o texto escrito deve seguir este processo: desmontar para reescrever. Só assim os alunos descobrirão o processo de escrita, aprendê-lo-ão e, posteriormente, sentirão o prazer da escrita.

É interessante e até compensador para o professor verificar, por exemplo, através dos acrósticos, ou jogos de rimas, ou produção de texto a partir de gestos como os alunos se entusiasmam com a escrita, revelando mesmo alguma facilidade em corrigir o erro e/ou as dúvidas de escrita, consultando com regularidade o dicionário que está sempre presente na aula de Português.

Todavia, toda esta actividade de escrita no 2º e 3º Ciclos torna-se difícil de concretizar dado o número reduzido de horas da disciplina onde é preciso trabalhar outros conteúdos programáticos. Esta actividade, para dar frutos, não pode ser feita como aula de redacção, mas como oficina de escrita onde o peso da avaliação não está presente, levando os alunos a aderirem com facilidade e sem qualquer receio. Depois desta actividade, os alunos também aderem melhor ao exercício de redacção, uma vez que já dominam melhor quer o acto de ler quer o de escrever. A meu ver, também se torna importante o professor acompanhar os alunos nos exercícios que propõe, escrevendo com eles. No fim da sessão de escrita, a partilha dos resultados entre todos – alunos e professor – é bastante estimulante.

Lembro um exercício de redacção de uma carta ao Pai Natal que propus aos alunos. Enquanto eles procuravam ideias originais e marginalizavam as “listas de supermercado”, como chamo às enumerações de prendas que pretendem, eu, que podia ser avó deles, redigia também uma carta ao simpático velhote de barbas brancas e fato vermelho desbotado. No final, perguntei quem queria ler em voz alta o seu trabalho. A maioria pretendia fazê-lo e, à medida que as cartas iam sendo lidas, havia sempre um ou outro que propunha a redacção diferente desta ou daquela frase ou simplesmente bania-a da carta. No final, pediram para ler a minha, o que fiz, deixando-os também livres para apresentarem propostas de eventuais modificações. Foi giro e gratificante. A miudagem adorou a experiência e concluiu que os afectos estão impressos naquilo que escrevemos. Algo em que os alunos acreditaram verdadeiramente nessa altura, apesar disso ser sempre abordado nos momentos de compreensão de textos, mas aqui eles eram os autores dos seus trabalhos e isso era a grande diferença!

Penso que é muito importante aumentar o número de horas lectivas destinadas ao ensino da língua materna e preparar os professores para este tipo de actividades. Todos sairemos enriquecidos.

 Marta Oliveira SantosLicenciatura em Filologia Românica; colaboradora de várias publicações.

 

34 comentários

Comentar post