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Correio da Educação

Correio da Educação

Moncorvo, 09/09/1903 – Braga, 19/06/1981

 

Filho de Alfredo Cândido Nozes e de Elvira Eduarda Nozes, é diplomado pela Escola Normal Primária do Porto, no período republicano, onde terá sido influenciado pelo Prof. João Gomes de Oliveira, a quem dirige posteriormente palavras de grande apreço, no sentido de seguir uma especialização em Educação Física. Logo que é inaugurado o curso normal de Educação Física, inscreve-se na Escola Normal Superior de Lisboa, obtendo o diploma em 1927 com uma dissertação sobre Cultura física: Sua evolução, o método sueco de Ling. Iniciando a sua carreira docente no magistério liceal, na altura em que participa nos Congressos Pedagógicos do Ensino Secundário Oficial, em 1928-1929, é professor no Liceu José Estêvão, em Aveiro. Todavia, será no Liceu de Braga que exercerá grande parte da sua actividade profissional, publicando nesta cidade os seus livros mais significativos. Aqui, organiza a sua própria editora, Edições Nozes Tavares, o que lhe permite uma melhor difusão dos seus textos.

Exercendo funções docentes desde o final da década de vinte, e referindo-se a Pedro José Ferreira, com quem realizou um estágio na Escola Normal de Lisboa, Luís Nozes Tavares assume-se como elemento de uma das primeiras gerações de "professores de educação física". É neste plano que o seu percurso nos interessa, na medida em que junta uma reflexão teórica e metodológica sobre a Educação Física com um esforço associativo de organização deste sector do professorado. A este propósito, são muito interessantes as considerações que escreve, em 1949, a propósito do primeiro curso de férias organizado pelo Instituto Nacional de Educação Física. Percebe-se claramente o projecto de uma "nova afirmação, das mais justas e humanas pretensões, dos Professores de Educação Física de Portugal, de que vimos sendo humildes obreiros há mais de duas décadas", como escreve na dedicatória do livro. Aliás, este curso tem como objectivo explícito "rever de uma forma prática, os processos pedagógicos e didácticos que respeitam ao ensino da Educação Física Escolar" e consolidar o espírito de corpo dos seus professores (Tavares, 1949, p. 16). Neste sentido, defende a criação de um Sindicato dos Professores de Educação Física, ou de qualquer associação de classe, mas deseja "que esse Sindicato, Associação, ou Ordem, represente a aspiração colectiva de todos os professores diplomados em Educação Física, e não só alguns" (1949, p. 59). Identifica-se aqui um conflito com os jovens diplomados pelo Instituto Nacional de Educação Física que pretendem a reforma de todos os professores que não tenham o curso do INEF: "Têm os novos de agora o caminho a percorrer, já por nós desbravado, pelos da velha guarda, já portanto menos inçado de dificuldades, com a almejada vitória, que todos nós desde sempre legitimamente ambicionamos, nos nossos primeiros sonhos de Professor, pelos quais temos dado uma grande parte do nosso esforço e trabalhado em todos os pontos de vista, mesmo no do “bem da Classe”, mais próximo... Não devem os novos alegrar-se, esperançados... a pedir o fruto do trabalho de todos nós, só para eles, pois que em boa verdade e justiça deve ser para todos professores diplomados em Educação Física" (1949, p. 60).

Luís Nozes Tavares é um defensor do método sueco, ou método Ling, cujos processos explica nas suas primeiras obras, alargando os seus conselhos ao ensino primário e às escolas do magistério primário em trabalho de 1957. Na verdade, as suas reflexões cobrem o conjunto dos diferentes graus de ensino, residindo aqui um dos seus principais interesses. Num período em que a disciplina de Educação Física se encontra numa fase de consolidação, do ponto de vista curricular e metodológico, os livros de Luís Nozes Tavares permitem compreender algumas das clivagens e das opções que se vão impondo. Adepto do regime e da "formação cristã", refere a importância da Mocidade Portuguesa, bem como de um devido enquadramento moral das actividades físicas. Considera necessária a "teoria da educação física", recusando reduzir a disciplina a exercícios práticos e corporais: "Tal como se apresenta o programa de Educação Física no ensino médio é incompleto. Torna-se evidente a necessidade de aulas de Teoria de Educação Física, para maior e melhor eficiência da prática de ginástica e jogos escolares. Resulta assim que nos Liceus e Escolas de ensino médio, dum programa de Educação Física, sem indicação nítida de que o professor haja que ministrar conhecimentos teóricos, sem quaisquer classificações numéricas aos alunos, pela sua aplicação, actuação e comportamento, o professor de Educação Física, tem que ter duplo trabalho de persuasão pedagógica, para convencer os alunos, a que pratiquem o melhor possível – os exercícios de movimentos sistemáticos de ginástica escolar" (1957, p. 16). Este texto revela bem algumas das "dificuldades curriculares" que a Educação Física terá ao longo do século XX para se impor com o mesmo estatuto que as outras disciplinas do plano de estudos. Luís Nozes Tavares refere também que, frequentemente, "as famílias dos alunos são levadas a inferir em erro, do valor e da importância da Educação Física e da acção pedagógica do próprio professor" e que "o professor se sente diminuído, quer em importância de funções, quer em nível económico e social, pois os seus vencimentos, que devem ser igualados aos dos outros professores, estão muito abaixo dos vencimentos dos restantes professores do ensino médio (liceus e escolas técnicas)" (1957, p. 16). Ao longo da sua vida, mas em particular a partir do final da década de cinquenta, Luís Nozes Tavares escreve sobre muitos outros assuntos, de carácter histórico, político e social. Passa a assinar algumas das suas obras como "instrutor geral da defesa civil do território" e "membro da Sociedade Histórica da Independência de Portugal". Afasta-se, assim, progressivamente de um tratamento específico das questões da Educação Física para se centrar em temáticas de âmbito mais geral.

 

Bibliografia

"A semana da criança", Educação Nova, n.º 11, 1925, p. 14. Cultura física: Sua evolução, o método sueco de Ling, Lisboa, 1927. A nova técnica de Educação Física nos liceus, Braga, 1948. O I curso de férias do Instituto Nacional de Educação Física, Braga, 1949. A Educação Física nas escolas do magistério e do ensino primário, Braga, 1957. O curso de instrutores gerais da DCTN – 57 na zona Norte: como a ciência e a técnica poderão causar o fim do mundo, Braga, 1958. A Educação Física nos liceus e escolas técnicas: vantagens e necessidade da ginástica de compensação e jogos apropriados nos cursos profissionais nocturnos, Braga, 1958. Portugalidade e história luso-africana contemporânea, Braga, 1965.  Educação Nova.

 

 «TAVARES, Luís Carlos Nozes », in António Nóvoa (dir.), Dicionário de Educadores Portugueses, Porto, Edições Asa, 2003: 1365, com adaptações.

 

 

 

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