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Correio da Educação

Correio da Educação

 

A trajectória profissional e cívica de Noronha Feio cruzou espaços bem diversos: os do ensino, do treino e da animação desportiva, mas também os da administração pública e da política, da investigação e da divulgação. Essa travessia por múltiplos lugares e posições de intervenção foi acompanhada por uma ideia-mestra: o desporto como forma e meio de cultura, seguindo de perto os termos que empregou no início dos anos sessenta, do desporto como "valor cultural integrado na civilização" e, como tal, "centro de interesse pedagógico-cultural". Noronha Feio concluiu os estudos secundários no Colégio Militar e diplomou-se em Educação Física pelo Instituto Nacional de Educação Física, realizando o estágio para o ensino na Escola Industrial Machado de Castro, em Lisboa, no ano lectivo de 1953/1954. Foi, a partir do ano seguinte, professor no Liceu Alexandre Herculano, no Porto, tendo nessa cidade desenvolvido outras actividades, como a de treinador de várias modalidades desportivas (evidenciando o mesmo eclectismo que o caracterizava como praticante) e a de professor de teatro e dirigente do Centro de Cultura Teatral. Ainda durante a década de cinquenta, colaborou regularmente com o periódico alentejano A Planície (foi um dos redactores da página Desporto e Cultura) e dinamizou no norte do país um centro de âmbito recreativo e cultural (em Montalegre, numa iniciativa ligada à Hidro-Eléctrica do Cávado).

 


A modernização de discursos e dispositivos da Educação Física e do Desporto manifesta-se na trajectória e na obra de Noronha Feio. O seu relatório de estágio e tese de licenciatura (1953/54), Iniciação Desportiva, procurava responder a uma das suas preocupações centrais, a de sustentar conceptual e tecnicamente a intervenção educativa no desporto. Não se pode dizer que fosse nova a ideia de desporto como meio de educação física, nem que a invocação da pedagogia conferisse novidade ao discurso de Noronha Feio, uma vez que aquela foi constantemente mobilizada como meio construtivo e eficaz de condução dos corpos e das vontades. A modernização entrava no seu discurso sobretudo pelo corte com a estabelecida hierarquia dos meios da educação física (a ginástica, racional e científica, como base da educação física) e, mais que tudo, na valorização do desporto como coisa de cultura. Os textos que escreveu, entre finais dos anos cinquenta e início de sessenta, mostram essa tentativa de deslocamento dos modos de pensar-fazer desporto ao redor de três elementos nucleares: a passagem de uma intervenção estatal disciplinadora das práticas desportivas para outra concentrada na generalização dessas práticas nos diferentes espaços sociais (escolar e não escolar); a defesa de um método de propagação racional dessas práticas, a pedagogia desportiva, orientado por pedagogos especializados e responsáveis, com formação técnica, pedagógica e científica; e, claro, a noção de desporto como "movimento de cultura", "impregnado de valores de arte, história e filosofia".

 

Entre 1963 e 1967, Noronha Feio desempenhou o cargo de director do INEF, tendo sido o primeiro diplomado em Educação Física a fazê-lo. Quando assumiu o cargo, as suas linhas de orientação eram já conhecidas. Havia-as tornado públicas, por exemplo, nos Colóquios Gimnodesportivos promovidos no INEF em 1959 e no prefácio que escreveu à edição portuguesa, por si promovida, da obra Regards Neufs sur le Sport (de Joffre Dumazedier e outros). A publicação desta obra em 1960, com o título Desporto, Novas Perspectivas, facilitou o contacto com os olhares internacionais sobre o fenómeno da cultura desportiva e com a possibilidade de pensar em novas formas de regulação do desporto (como Noronha Feio referia no prefácio, da "organização do desporto pelos próprios desportistas"). No âmbito da sua intervenção na direcção daquele Instituto, e para além do reforço dado à intensificação dos contactos internacionais, à abertura curricular ao fenómeno desportivo e à renovação do corpo docente da esco

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