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Correio da Educação

Correio da Educação

30 Nov, 2010

Fernanda de Castro

 

Casada com António Ferro, Maria Fernanda Teles de Castro e Quadros Ferro era filha de um oficial da Marinha. Aos 12 anos ficou órfã de mãe, seguindo, juntamente com os seus três irmãos mais novos, o pai nas diversas comissões e colocações. Em Portimão frequentou a Escola da Câmara, fazendo o exame do 1.º grau em 1908, no colégio particular das Senhoras Abreu. Na Figueira da Foz, outra das colocações do pai, estudou na escola oficial, onde realizou o exame da 4.ª classe. Em Lisboa frequentou o Instituto Luso-Germânico, realizando os exames do 4.º e 5.º anos no Liceu D. Maria Pia, e os do 6.º e 7.º anos no Liceu Passos Manuel.

 

 

Por sentir uma maior inclinação para as letras do que para as ciências, desiste da Escola Politécnica e, incentivada pelas suas amigas Branca Colaço e Teresa Leitão de Barros, publica o primeiro livro de versos, Ante-manhã, coletânea do trabalho realizado entre os 15 e os 18 anos. Romancista, poetisa e conferencista começou a sua obra pedagógica, tal como muitas das suas predecessoras e contemporâneas, escrevendo romances e contos infantis, dos quais se destacam a Mariazinha em África (com mais de cinco edições), A Princesa dos Sete Castelos (com quatro edições), Fim de Semana na Gorongosa e as Novas Aventuras de Mariazinha. Estes livros atingiram um sucesso notável, encantando as gerações mais novas e servindo para criar um sentimento muito forte de africanidade, pois muitas destas histórias têm como cenário África, que sem dúvida fascinou a autora quando pela primeira vez lá foi, ainda jovem, na companhia dos pais. Colaborou com algumas das figuras gradas do movimento modernista, como Sarah Afonso (pintora, mulher de Almada Negreiros e ilustradora do seu livro O Tesouro da Casa Amarela, peça de teatro infantil publicada em 1926 no Diário de Notícias) e da literatura para crianças das décadas de vinte e trinta, como Emília de Sousa Costa ou Teresa Leitão de Barros. Com esta editou o volume Varinha de Condão, ilustrado por Elsa Althause, Cottineli Telmo, Rocha Vieira, Raquel e Maria Roque Gameiro, Stuart Carvalhais e Martins Barata.

Salazarista convicta, colaborou diversas vezes com o marido na organização de alguns dos grandes eventos culturais e artísticos do Estado Novo: Exposição Internacional de Paris (1937), Exposição Internacional de Nova Iorque e São Francisco (1939), Exposição do Mundo Português (1940), etc. Elogiando Salazar, escreveu em 1958 um pequeno texto denominado Nem com a Política, nem com a Propaganda mas apenas com a Alma e a Sensibilidade, no qual admira o homem solitário, que comanda as rédeas da nação, manifestando-lhe o seu sentimento de agradecimento feminino, quase maternal: "Para mim, ele era o homem que acabara com as revoluções, com a desordem, com os assaltos às mercearias, com a propaganda do bacalhau a pataco, o homem que liquidara a dívida externa, que valorizara o escudo, que conseguira que erguêssemos a cabeça, onde quer que estivéssemos" (Ao Fim da Memória, vol. II, p. 252).

O nome de Fernanda de Castro está ligado à criação e desenvolvimento dos primeiros Parques Infantis Portugueses, cujo termo ela mesma inventou, tal como explica nas suas memórias. A ideia surgiu-lhe durante uma visita a Paris aos "Square d'enfants" (1930), organizados pela milionária americana Miss Stern. Apesar de ter achado a ideia magnífica, discordou em absoluto da "arrepiante tristeza" destes estabelecimentos infantis a que faltava "cor e alegria" (Ao Fim da Memória, vol. I, pp. 239-240). Já em Portugal, foi Ricardo Espírito Santo quem contribuiu para a construção do primeiro Parque Infantil. Situado no tabuleiro inferior do Jardim de São Pedro de Alcântara, espaço cedido pelo vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Luís Pastor Macedo, foi inaugurado a 6 de Dezembro 1933. Ao Parque Infantil n.º 1, de São Pedro de Alcântara, se seguiriam muitos outros por toda a Lisboa: o Parque do Campo Grande, maior, com espaço para 150 crianças; o Parque das Necessidades; o de Santa Catarina e o Parque de Alcântara, frequentados, ao todo, por 750 crianças pobres, dos dois sexos, com idades compreendidas entre os três aos dez anos. Os parques infantis passariam depois a ser financiados com fundos do Estado e contribuições de particulares. Depois de 40 anos de dedicação a este trabalho, Fernanda de Castro fez a entrega dos parques infantis à Santa Casa da Misericórdia, que os tomou inteiramente à sua responsabilidade. Foi a necessidade de continuar a educação destas crianças que, de outra forma, depois dos 10 anos, seriam enviadas de novo para o "tugúrio paterno" e abandonadas ao "perigo moral", que levou à criação da "Colmeia", escola de artes e ofícios, onde as crianças mais velhas aprendiam um ofício e expunham e vendiam os seus trabalhos, sob a direção de Heloísa Cid, Inês Guerreiro e Fernanda de Castro. Foi ainda criado, no Parque Infantil das Necessidades, o projeto de ensino artístico "Pássaro Azul", constituído por um grupo de 100 crianças pertencente a este e ao Parque n.º 5, de Alcântara, onde aprendiam música, canto coral, mímica, bailado, teatro, desenho, declamação, etc., tendo como professoras os grandes nomes artísticos de Eunice Muñoz, Carmen Dolores, Nina Marques Pereira, Sarah Afonso, Inês Guerreiro, Arminda Correia, Júlia de Almendra, Maria Germana Tânger, Ana Máscolo e Águeda Sena. Com o início da guerra colonial, a Misericórdia de Lisboa foi obrigada a cortar o subsídio de 50 contos mensais dados ao "Pássaro Azul", o que inviabilizou a continuação deste valioso projeto.

Em 1945 colaborou numa curta-metragem de João Mendes, que este dedicou à sua obra social, justamente intitulada Parques infantis, estreada a 19 de Dezembro desse ano. Fernanda de Castro foi durante vários anos presidente da Associação Nacional de Parques Infantis, cuja sede se situava no Jardim de São Pedro de Alcântara. Depois da morte do marido foi encarregue da presidência da Comissão de Literatura e Espetáculos para Menores, a funcionar no Palácio Foz, onde estava situado o SNI. Este trabalho, que ela não apreciou, consistia numa censura pedagógica dos livros, peças de teatro, filmes, etc., considerados "impróprios para as crianças". Na senda de António Ferro, foi ainda grande divulgadora das potencialidades turísticas, artesanais e gastronómicas do Algarve, tendo sido encarregue de organizar o I Festival do Algarve, nos finais da década de sessenta. Promoveu espetáculos para crianças na Estufa Fria, em Lisboa, e aí dirigiu o Teatro de Câmara António Ferro. Em 1969, foi-lhe atribuído o Prémio Nacional de Poesia. Colaborou em diversos jornais, entre eles o Diário de Notícias, Correio da Manhã, Diário de Lisboa e no jornal infantil Tic-Tac.

 

Extraído de: «CASTRO Fernanda de», Sara Marques Pereira, in António Nóvoa, Dicionário de Educadores Portugueses, Porto, Edições Asa, 2003: 322 - 324, com adaptações.

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