O Aroma da Memória

* Rosa Duarte
Ter memória de elefante não é para todos. Mas à nossa escala humana, cobaias do terceiro milénio, não há ninguém que a ela não recorra, nem que seja para se reconhecer ao espelho, fazer um simples flashback para lançar a mão às chaves do carro ou de casa, ou desanuviar de um dia de trabalho com uma imagem mental de companhia.
A nossa memória é a nossa história, a nossa identidade. Construímo-nos a registar e a reler esses registos. E a cada recordação, mesmo sem querer, fazemos involuntárias reformulações.
De tal modo que me vieram à ideia as correrias que fazia com os meus irmãos no parque infantil do Monsanto nos escorregas de chapa enormes, a sentir as minhas pernas a queimar pela fricção, os baloiços brancos largos, com proteções lassas e grossas… e a sentir depois algum enjoo a seguir ao almoço à conta do calor e dos safanões…
* Docente do Ensino Secundário.