A expressão do Natal no sentir dos poetas
A noite de Natal. Em meu país, agora,
O que não vai até ao romper do dia, a aurora!
As mesas de jantar na cidade e na aldeia,
À luz das velas, ou à luz d´uma candeia,
Entre risadas de crianças e cristais
(De que chegam até mim só ais, só ais)
Dois milhões de almas e outros tantos corações,
Pondo de parte ódios, torturas, aflições,
Que o mel suaviza e faz adormecer o vinho:
São todas em redor de uma toalha de linho!
(António Nobre, In Natal… Natais, Ant. Vasco Graça Moura, Público, 2005, p. 162)
NATAL
O Chefe de família limpou a boca ao guardanapo e afirmou assim como dois e dois são quatro e não são outra coisa
O Natal é o Natal e não é outra coisa antes pelo contrário
E para provar o que dizia comeu uma asa de peru
com recheio de castanhas
e limpou os dedos gordurosos ao bordado da toalha
À volta da mesa metade da família discutia a mensagem
e comia
e a outra metade mais intelectual comia a mensagem
e discutia
sim tal não tal
sim tal não tal
não tal
não tal
Natal
(Yvette Centeno, In Natal… Natais, Ant. Vasco Graça Moura, Público, 2005, p. 335).