Vânia Cecília Almeida Rego
Nome: Vânia Cecília Almeida Rego
Profissão: Leitora de Português - Universidade de Poitiers - França;
Habilitações: Mestre em Literatura Portuguesa
- Qual a sua actividade profissional mais gratificante já realizada?
O leitorado na Universidade de Poitiers em França, pelo contacto com alunos que iniciam a Língua Portuguesa no nível 0 e pela possibilidade de dirigir e organizar as actividades culturais em Língua Portuguesa.
- Que mensagem deixaria aos professores deste país?
Os professores são uma peça fundamental da educação das diversas gerações que acompanham. Ser professor é uma questão de vocação e de vontade, por isso a minha mensagem é muito simples: para todos os colegas, assim como para mim, é a vontade e a iniciativa que nos caracterizam que permitem às gerações futuras avançarem pelo mundo e conquistarem o conhecimento e a realização pessoal. Ajudemo-los o mais que pudermos e sempre com um sorriso no rosto, porque a maior busca do ser humano sempre foi a felicidade. A sociedade acabará por perceber, olhando as nossas iniciativas pedagógicas, o valor de cada um de nós e a importância que anos de má gestão educativa têm acumulado.
- Para si, qual a chave para mudar a educação em Portugal?
É difícil pensar numa chave que possa mudar um processo tão longo e complexo como a educação. No entanto, há uma série de pequenos passos que podem, seguramente, ajudar a que esse processo se torne num investimento colectivo e socialmente bem sucedido. Portugal tem vivido, nos últimos anos, na preocupação de encontrar o modelo educativo ideal; a procura em si é positiva, mas tem sido baseada em cópias de modelos estrangeiros que funcionam bem nos ditos países, mas que não têm em conta as particularidades históricas e sociais do nosso país.
A educação deve englobar não só o conhecimento adquirido nas aulas de diversas disciplinas, mas também a sensibilização para a cultura, para os deveres cívicos e para o respeito pelo mundo em geral.
Diz-se que os nossos alunos sabem cada vez menos coisas, no entanto, eles são capazes de conversar, enviar um sms e desenhar ou desempenhar outra tarefa ao mesmo tempo. Diz-se que não sabem escrever e que dão cada vez mais erros ortográficos, o que é verdade, mas o facto é que eles percebem a “nossa” linguagem, mas nós temos uma certa dificuldade em perceber a deles.
O que falta em Portugal é um trabalho conjunto entre diversos tipos de instituições na construção da educação, por exemplo, uma maior abertura cultural (nomeadamente nos preços dos espectáculos) para que os jovens possam ir ao teatro, à ópera ou a um concerto. A sensibilidade cultural proporciona aos jovens uma maior abertura de espírito. Por outro lado, os jovens e a escola estão afastados do quotidiano. Por que não pensar em proporcionar aos alunos mini-estágios (de três ou quatro semanas anuais) em diversos tipos de empregos? Integrar os jovens na sociedade engloba também conhecer melhor o mundo de hoje e o próprio quotidiano dos jovens. Aprender a conhecer o público que frequenta as escolas é a melhor forma para se desenvolverem projectos educativos de sucesso e, sobretudo, que resultem no bem-estar e na realização de todos, sem preocupações estatísticas...
- Qual o papel reservado aos professores nessa mudança?
Para não tornar estes objectivos demasiado utópicos, todos temos um papel imprescindível. Ao assumirmos o desejo de educar não podemos esquecer que o saber disciplinar representa apenas uma pequena parte do conhecimento humano. É por isso que os professores devem ir ao encontro dos alunos e estabelecer na aula momentos de transmissão de conhecimentos e momentos de partilha de informação, porque os alunos também têm uma palavra a dizer sobre o mundo em que vivemos e sobre a sua própria educação.
Como professores estamos conscientes desta necessidade, mas os programas e as normas ministeriais programáticas impedem frequentemente este percurso escolar construído e responsável, prescrevendo percursos pré-definidos e pouco adaptados à escola de hoje.
Continuo, no entanto, bastante optimista quanto à força de vontade dos professores e dos alunos em construírem juntos o percurso escolar que mais se adapta às necessidades locais, integrando os programas e dinamizando actividades paralelas que possam enriquecer a aprendizagem.
- O que guarda como melhor para a vida ou mais gratificante na lembrança do seu percurso escolar?
Os professores que conheci e os ensinamentos que me transmitiram, assim como as amizades que estabeleci ao longo do percurso. Permito-me destacar a minha professora primária que sempre admirei e que foi muito importante no meu percurso e na minha escolha profissional e o professor de História e grande amigo, professor Vasconcelos, que doseava na perfeição a pedagogia e a construção do conhecimento e que nos incutiu o sentido de camaradagem e solidariedade.
- Como compara a Escola de hoje com a do seu tempo?
Eu diria que a Escola de hoje é ainda a Escola do meu tempo, saí do circuito escolar há poucos anos e considero que não é melhor nem pior do que a Escola dos meus pais ou de outras pessoas que fui conhecendo. A maior diferença é que a Escola até aos anos 80/90 se ocupava dos conteúdos e a Escola do século XXI tem, para além dos conteúdos, de se ocupar da gestão de novas tecnologias e de aprender a integrar esses novos instrumentos que mudam e se aperfeiçoam a cada dois, três meses e aos quais os alunos estão mais habituados do que os próprios professores.
Actualmente há, também, uma maior facilidade no acesso ao conhecimento proporcionada pela internet, pelo maior número de editores e de programas culturais.
No entanto, a Escola de hoje não tem conseguido acompanhar o ritmo e a evolução na transmissão dos conhecimentos o que faz com que a internet, o MP4 ou até o Iphone não vejam reconhecido o seu devido valor e sejam considerados como obstáculos ou pior como os culpados do insucesso escolar!
- Que conselho daria aos alunos de hoje? E aos professores?
O conselho que dou aos meus alunos frequentemente é o de encararem a escola de forma responsável e construtiva, porque eles podem mudá-la. Ser dedicado, perseverante e participativo é uma forma de estar integrado na Escola e de participar lado a lado com os professores na construção de percursos educativos mais interessantes e dinâmicos.
Em relação aos colegas, o conselho que me parece mais pertinente vem ao encontro do que dou aos alunos. Construir percursos educativos alternativos tendo em conta a necessidade do público e procurando integrar a sociedade actual nesse percurso, responsabilizando os alunos pela construção da educação é uma tarefa de todos os que desejam participar activamente deste processo.
- Qual a disciplina de que gostou mais?
Tenho alguma dificuldade em eleger apenas uma disciplina. Sempre gostei muito de Português, de História e do estudo de línguas estrangeiras.
- Quando passou pela Escola, era um(a) bom (boa) aluno (a)?
Sim, era uma excelente aluna, dedicada, motivada e participativa.
- O que será hoje um bom aluno?
Um bom aluno é sempre aquele que se dedica a enriquecer o seu percurso escolar não só com os conhecimentos dos livros, mas também intervindo no meio em que o rodeia, participando e propondo projectos e ajudando os colegas a serem também bem sucedidos.