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Correio da Educação

Correio da Educação

13 Jan, 2011

Professor é...

 

* Carla Marques

 

 

Todos guardamos na memória a imagem e os ensinamentos de um professor que, a certa altura do nosso percurso, nos marcou indelevelmente, deixando em nós um sinal que teima em ficar para toda a vida.
Todo o professor sabe que, a certa altura do seu percurso, marcará indelevelmente um aluno e deixará nele um sinal que teimará em acompanhá-lo por toda a vida.

 

Esta é uma dádiva que só quem é professor pode compreender. E somente o professor sabe também que, para que isto aconteça, são necessárias condições muito especiais.

 

Entre os inúmeros contextos que poderão propiciar este “toque mágico” está, sem dúvida, o espaço de uma aula, na verdadeira aceção da palavra. Sem adjetivos, sem adornos, sem acrescentos. Simplesmente, o espaço de uma aula. Aqui, o professor ensina, partilhando saber que foi construindo ao longo do seu percurso. Aqui, os alunos aprendem, construindo um saber que é infinito e multifacetado. Aqui, o som de fundo é o do trabalho esforçado, da aprendizagem partilhada, da entreajuda motivada. Aqui, o professor vê no fundo dos olhos dos seus alunos a sede de aprender, a maravilha em cada descoberta, a admiração pela novidade, o espanto perante o desconhecido. Aqui, o aluno vê no professor um mentor que o guiará pelo caminho da aprendizagem, que lhe abrirá as portas do conhecimento, que lhe dará os instrumentos para caminhar sozinho. Aqui, ensinar e aprender fazem todo o sentido. Não se pensa no fim, no sucesso, porque este é uma consequência natural de todo o processo. Não se manipula o percurso, porque são os próprios alunos que querem percorrer todos os caminhos possíveis. Aqui, a escola reencontra-se na sua verdadeira função. Aqui, ser professor volta a ter sentido e ser aluno não se resume a um incidente de percurso.

 

Este não é um cenário idílico. Esta realidade ainda existe nas nossas escolas. Mas é uma realidade que vai rareando. Quando se ouve, em tom de desabafo, «Este ano, aquela turma é tão motivada, nunca estão satisfeitos», pressente-se também a alegria, o reencontro, o «fazer sentido».
É num contexto como este que a Escola pode tocar o aluno para toda a vida. É nestes momentos que o professor se sente professor. Porque também só quem é professor sabe que o que nos move é um sentimento de “missão” que vai muito além do salário que se recebe (com ou sem cortes), das progressões numa carreira atribulada e incerta, dos ataques mais ou menos velados de que se vai sendo alvo. Nós sabemos que o trabalho com seres humanos é tão importante e tão especial que nunca nos passará pela ideia prejudicar um aluno que seja porque alguém ou algo exterior à realidade do ensino exerce algum tipo de pressão e de deturpação. Ter um ser humano nas mãos, contribuir para definir o seu caminho, acompanhar a construção do seu ser é algo tão precioso que não é passível de raivas ou de ódios a prazo.

 

Os professores sabem tudo isto e, por isso, não compreendem quando a sociedade deturpa a função da escola, quando os alunos não querem ser alunos, mas outra coisa qualquer, quando a sala de aula se transforma num espelho de uma realidade alheia. Porque ser Professor é ser Professor.

 

* Carla Marques - Mestre em Linguística e doutoranda na mesma área; autora de várias publicações de carácter didático e de caráter linguístico: docente na Escola Secundária/3 de Carregal do Sal.

 

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