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Correio da Educação

Correio da Educação

* Carla Marques


Era uma vez uma escola. Era uma vez a história dessa escola. Era uma vez o tempo aqui e o espaço agora. Era uma vez as personagens dessa história. Era uma vez a trama dessa história. Era uma vez o autor dessa história.
As personagens dessa história eram inúmeras e mesmo contraditórias: um senhor que queria governar e outros sete que o queriam ajudar a mandar; outro senhor que queria controlar e ainda outros sete que sonhavam ajudá-lo a imperar; uns sonhavam com uma escola sem alunos, outros lutavam por uma escola sem professores; uns só queriam ter alunos para trabalhar, outros buscavam professores para avaliar; uns queriam aprender para ir mais longe, outros não queriam aprender, mas queriam ir mais longe; uns destilavam mágoas e rancores, outros buscavam unir e repartir; uns queriam uma escola centrada nos fins, outros queriam uma escola virada para os meios; uns queriam unir para avançar, outros queriam dividir para reinar; uns só queriam que os deixassem em paz, outros não deixavam ninguém sossegado; uns só queriam trabalhar, outros não deixavam fazer nada; uns queriam números numa pauta, outros buscavam caminhos invisíveis.

 

A trama dessa história estava ali à disposição: podia ser uma história de projetos para a escola, mas também podia ser a história de uma escola para os projetos; podia ser a história de uma escola para mim, mas também a de uma escola para ti ou para nós; podia ser a história de uma escola redonda, como um grande círculo feito de mãos dadas, ou então a história de uma escola piramidal, com os de baixo a suportarem uns quantos lá mais em cima; podia ser a história de uma corrida por etapas, onde os melhores levavam consigo os outros, indo sempre mais longe, mas também podia ser a história de um marasmo identitário, onde todos seriam iguais e nenhum diferente e nenhum melhor; podia ser uma história de valores bons em busca do sucesso, mas também podia ser uma história para um sucesso; podia ser uma história com final feliz ou uma história e ponto final.


- Oh, mãe, mas como é que começa a história?


- Filha, ninguém sabe! O autor desapareceu… dizem que não a quer escrever ou que não o deixam escrever. Ninguém sabe…


- E a história, vai ficar por contar?


Era uma vez.

 

* Carla Marques - Mestre em Linguística e doutoranda na mesma área; autora de várias publicações de carácter didático e de caráter linguístico: docente na Escola Secundária/3 de Carregal do Sal.

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