Carta ao Manuel
* Teresa Martinho Marques
Querido Manuel, é tão tardia esta carta. Tão irremediavelmente tardia que nem sei em que estrela te pendurarás para a escutar ao meu lado enquanto a canto como a um fado.
Eu que me habituei a ser fada de mim e a usar uma varinha de condão para realizar os sonhos que vou sonhando (tantos deles para a escola), não quero acreditar que um deles vai ficar perdido por aí, deambulando, órfão de ti e da tua voz, sem destino a que chegar.
Sabias que fiz planos para me cruzar contigo e quase consegui? Tantas perguntas eu levava no bolso. Afinal só estivemos quase juntos porque o espaço foi o mesmo (inverno frio na Guarda e uma biblioteca quente), mas os dias foram dois, colados um ao outro sem se sobrepor. Adiamos na vida tanta coisa. E depois o sal e a dor. E inventamos que as pessoas não morrem porque a obra, a memória, essas coisas de circunstância, de limpar lágrimas e seguir em frente. Morremos sim, porque o futuro vai ser para sempre feito de passado. Parece que é a mesma coisa, mas é tão diferente. Eu queria continuar a escutar a tua voz e colá-la ao que já disseste até te dizerem que não podias dizer mais nada. Fim. Não queria somente o que já foi, o que li e reli. Não queria apenas amanhã só regressar a ti.
* EB 2,3 de Azeitão e CCTIC – ESE/IPS: http://projectos.ese.ips.pt/cctic/ e http://eduscratch.dgidc.min-edu.pt/