*Inês Silva
Otimismo é uma palavra pouco audível nos dias que correm. A tendência é a de se dizerem, quase ininterruptamente, palavras de outra ordem, como “crise”, “dívida”, “desemprego”, “dificuldade”, “sacrifício”, “austeridade”, “boys”, “corrupção”, “falência”, “corte”, “custos”, “queda”, “incompetência”,”fragilidade” – nomes que, nos contextos em que são ditos, só podem semanticamente contribuir para caracterizar de “infeliz” o país em que vivemos. E não são apenas proferidos em conversas de circunstância, aquelas que preenchem os espaços sociais nos locais públicos e privados, quando encontramos algum amigo ou algum conhecido e perguntamos “Como vai?”/ “E a família?”, e onde, por vezes, ainda introduzimos um comentário, como “Choveu imenso nos últimos dias!”, finalizando com um espécie de refrão de cantiga de escárnio e maldizer dos tempos de agora: “É a crise!”. Os tais nomes depreciativos também têm sido utilizados “à boca cheia” por várias personalidades públicas, jornalista e políticos, quer na imprensa quer na televisão, em todos os canais, em todos os debates e em todos os noticiários. Ou seja, estão a dominar lexicalmente a comunicação pública e privada do momento.
*Inês Silva - Doutora em Linguística (Sociolinguística). Professora Adjunta Convidada na Escola Superior de Educação de Santarém. Tem realizado estudos sobre a escrita dos alunos. É autora de várias publicações de caráter didático e de caráter linguístico. Na ficção, publicou o romance: A Casa das Heras.